Valor econômico, v. 21, n. 5121, 05/11/2020. Brasil, p. A4

 

Fiocruz pretende ter 30 milhões de doses de vacina contra covid prontas já em fevereiro

Rafael Rosas

05/11/2020

 

 

Planejamento da fundação é iniciar fabricação mesmo antes de Anvisa conceder registro para uso no Brasil

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pretende começar a produzir as primeiras doses da vacina contra a covid-19 já em janeiro, mesmo antes de sair o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ontem, em evento com jornalistas sobre o andamento dos testes da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AztraZeneca, o diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Maurício Zuma, afirmou que o objetivo é iniciar a produção assim que a instituição receber o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), o que deve ocorrer em janeiro.

A Fiocruz estima para fevereiro a concessão do registro da vacina. Ela prevê que, entre o recebimento do IFA e a autorização do órgão, seriam produzidas até 30 milhões de doses, que ficarão armazenadas para distribuição imediata tão logo a Anvisa permita o uso no país.

“Poderemos ter 30 milhões de doses até fevereiro. Vamos começar produzindo em janeiro para ter o produto já disponível quando sair o registro”, disse Zuma.

Rosane Cuber, vice-diretora de Qualidade de Bio-Manguinhos/Fiocruz, explicou que a vacina em estudo pela Fiocruz mostrou bons resultados até o momento, com o desenvolvimento de anticorpos neutralizantes para o Sars-CoV-2 - vírus que causa a covid-19 - em 91% dos voluntários que participaram dos testes.

Ela afirmou ainda que os testes mostram também que a eficácia aumenta quando são ministradas duas doses, mas acrescentou que ainda não há definição se serão necessárias duas doses ou apenas uma quando o protocolo de vacinação estiver pronto.

O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, afirmou que o cenário para o ano que vem provavelmente incluirá mais de uma vacina disponível, como por exemplo a CoronaVac, desenvolvida pela Sinovac e que deverá ser fabricada no Brasil pelo Instituto Butantã.

“Temos que tomar alguns cuidados, mas esse é cenário desejável”, disse Krieger. “A Anvisa garante que vacina será segura”, acrescentou, lembrando que o Brasil está em uma posição “muito privilegiada no que diz respeito à disponibilização de vacinas, uma vez que a Fiocruz vai ter, em 2021, a possibilidade de fabricar grande número de doses.

Krieger lembrou que a vacina é um dos braços de combate à pandemia e que a introdução das doses no país já em 2021 vai permitir a redução da circulação viral.

Zuma ressaltou que as instalações de Bio-Manguinhos permitem processar até 40 milhões de doses por mês, mas inicialmente a Fiocruz conseguiu IFA em volume suficiente para apenas 15 milhões doses mensais. “Receberemos esse limite e processaremos isso até julho”, disse, chegando à conta de 100 milhões de doses com o IFA importado no primeiro semestre.

No segundo semestre, com o IFA já produzido aqui, a capacidade inicial também seria de 15 milhões de doses. “Mas já discutimos aquisição de equipamentos maiores para produzir 30 milhões de doses de IFA por mês. Queremos ampliar [a capacidade], mas não sabemos quando”, disse Zuma.

Com isso, a expectativa para o ano que vem é de cerca de 210 milhões de doses totais saindo da linha de produção de Bio-Manguinhos, seja com IFA importado, seja produzido internamente. “Só estamos conseguido dar essa resposta por causa da nossa capacitação prévia”, ressaltou Zuma.