Título: Mercado aposta na alta dos juros
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 12/03/2013, Economia, p. 10

Para a maior parte do mercado financeiro, a alta dos juros básicos (Selic) ainda neste ano se tornou inevitável. Depois do comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada, os analistas entenderam que a inflação ganhou mais peso entre as preocupações do Banco Central. No boletim semanal Focus, publicação que reúne as expectativas de cerca de 100 economistas de bancos e empresas de consultoria, a estimativa dominante é que a Selic termine 2013 em 8% ao ano. O processo de elevação teria início em outubro, quando o BC subiria a taxa em 0,5 ponto percentual, para 7,75% ao ano. Em novembro, haveria um novo aperto de 0,25 ponto.

Na semana passada, quando a inflação surpreendeu os analistas ao registrar expansão de 0,6% em fevereiro e 6,31% no acumulado de 12 meses, o mercado futuro de juros reagiu fortemente e as apostas chegaram a bater em uma Selic de até 9% ao ano no fim de 2013. Com o anúncio da desoneração da cesta básica, que tem potencial para diminuir o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 0,4 ponto percentual, o ímpeto dessas apostas, porém, diminuiu. Ontem, elas já haviam recuado para algo ao redor de 7,5% ao ano e pouquíssimos acreditavam em um ajuste monetário já na próxima reunião do Copom, em abril.

Alguns analistas acham até que o ritmo de crescimento do país está lento demais para suportar um aumento dos juros básicos. Na avaliação dessa corrente, o pior da inflação está nos serviços, que chegaram a aumentar 8,66% no acumulado de 12 meses até fevereiro — quase o dobro do centro da meta estabelecida pelo governo para o IPCA, de 4,5%. Nos cálculos de André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, para levar os preços dos serviços a um patamar mais tolerável, seria necessário subir a Selic dos atuais 7,25% ao ano para cerca de 10%, o que provocaria forte contenção na atividade econômica. “Isso transformaria a classe média em classes D e E novamente, o que ninguém quer. Espera-se do BC algo que não dá para exigir”, afirmou.

Na visão dele, o Banco Central tem espaço para esperar e analisar o comportamento dos preços a curto prazo. Para o Bradesco, que faz avaliação semelhante, a autoridade monetária não vai subir juros em 2013, porque já está em curso uma desaceleração dos preços dos alimentos. Enquanto o preço médio do grupo alimentação e bebidas registrou alta de 1,99% em janeiro, no mês seguinte a elevação foi menor, de 1,45%. A expectativa é que essa taxa diminua ainda mais nos próximos meses.

Sangue frio Mesmo assim, o IPCA acumulado em 12 meses deve estourar o teto da meta, definida em 6,5%, já em março. A avaliação de alguns analistas econômicos é que o Banco Central terá de ter sangue frio para suportar as críticas, se não subir os juros já no próximo mês. As acusações de que o presidente do BC, Alexandre Tombini, tem sido leniente com a alta de preços tendem a ganhar corpo com a divulgação do IPCA deste mês. No boletim Focus, as previsões de inflação para 2013 também pioraram, passando de 5,70%, na semana passada, para 5,82%.

Elson Teles, economista do Itaú Unibanco, revisou a estimativa de inflação de março de 0,45% para 0,55%, apesar da desoneração da cesta básica. “Se este resultado for confirmado, a inflação (em 12 meses) chegaria a 6,67%”, calculou. Teles está entre os mais pessimistas com a carestia. Na avaliação dele, a queda nos alimentos não é suficiente para segurar o índice. “O aumento nos preços dos alimentos tem sido resistente, indicando que a desaceleração, na margem, deve ser menos intensa do que o anteriormente previsto”, observou.