Valor econômico, v. 21, n. 5124, 10/11/2020. Política, p. A10

 

Após reação negativa a encontro com Moro, Huck almoça com Rodrigo Maia

Marcelo Ribeiro

Raphael Di Cunto

10/11/2020

 

 

Ex-ministro da Justiça desperta resistências na classe política, mas apresentador preserva pontes com o DEM

Dias após se encontrar com o ex-ministro Sergio Moro, o apresentador Luciano Huck almoçou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ontem e minimizou o encontro com o ex-juiz da Lava-Jato. Um dos potenciais candidatos à Presidência em 2022, Huck destacou que tem conversado com vários líderes políticos e que está preocupado com o desempenho da economia em 2021 - que, para ele, ainda deve sofrer reflexos da covid-19.

Segundo apurou o Valor, o convite do encontro partiu do apresentador, o que foi visto com um gesto de alinhamento ao presidente da Câmara, ao DEM e a outros partidos de centro. Pela manhã, Maia reagiu à notícia de que Huck encontrou Moro no fim de outubro para falar sobre o cenário político, com vistas a uma eventual aliança em 2022.

Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, Maia disse que é “zero” a chance de ele apoiar uma eventual candidatura de Moro, mesmo que com Huck na chapa, por se tratar de um “representante da extrema-direita”. O presidente da Câmara, segundo um aliado, expressou um incômodo da cúpula dos partidos da centro-direita. O grupo vê Huck como um candidato forte, com perfil liberal na economia e agenda social entre os mais pobres, e por isso com potencial para derrotar o presidente Jair Bolsonaro, mas não quer atrelar seu projeto ao de Moro, conhecido pelas operações contra a classe política.

Durante o almoço, Huck teria perdido poucos minutos para falar sobre o encontro com Moro na semana passada. Ainda que não tenha negado a possibilidade de estabelecer uma aliança com o ex-juiz, ele lembrou que mantem contato com vários nomes da esquerda e do centro. Interlocutores de Maia avaliam que o almoço foi “amigável” e “mantém vivíssima as chances de ambos seguirem juntos e embarcarem em uma candidatura comum em 2022”.

À noite, Maia evitou repetir a crítica em entrevista à “CNN Brasil” e minimizou o encontro com Huck - um “amigo” que ele visitaria em todas as suas idas ao Rio de Janeiro para falar mais do cenário de curto prazo do que das eleições. “É claro que o nosso projeto eleitoral é um projeto que vai ser construído a partir do segundo semestre do próximo ano. E acho que o caminho que o governo trilhar nos próximos seis meses é que vai organizar esse campo da centro-direita, centro-esquerda, nesse enfrentamento contra a candidatura à reeleição do presidente”, disse.

Partidos e políticos de esquerda também rejeitaram a aproximação. “É inaceitável alguém de esquerda apoiar uma chapa Moro/Huck. É como apoiar o Bolsonaro”, disse o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira. “Nunca falamos [com o Huck], mas agora com ele conversando com o Moro é que fica ruim de conversar com ele. Se ele tem preferência pelo Moro, é melhor que fique por lá mesmo”, reforçou.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), um dos interlocutores de Huck, criticou Moro por gravar para a campanha do deputado capitão Wagner (Pros) em Fortaleza. “Começou muito mal a sua tentativa de se reinventar como referência do 'centro', após servir a Bolsonaro e dele se servir. Cobram tanto da esquerda, mas com um 'centro' assim fica difícil demais”, disse no Twitter.

Já o vice-presidente do PSB, o deputado federal Júlio Delgado (MG) defendeu que a eleição nos Estados Unidos indicou que os opositores de Bolsonaro devem buscar uma candidatura de centro, mas que o próprio ex-juiz precisa procurar a esquerda. “A partir do momento que o cara saiu do jeito que saiu, falando que tinha interferência na polícia, ele pode construir um outro caminho mais ao centro”, disse. Para ele, quem veta Moro, mas cogita o nome do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), parece mais preocupado com a agenda anticorrupção do que a relação com Bolsonaro.

A presidente nacional do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), já ofereceu o partido para Moro concorrer em 2022 e disse que a aproximação é importante. “Já falo com ele [Huck] há um tempo. Todos que querem a união do Brasil estão conversando”, afirmou.

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Ciro diz que ex-ministro é corrupto

André Guilherme Vieira

10/11/2020

 

 

Ex-presidenciável do PDT disparou críticas contra ex-ministro da Justiça

Candidato à Presidência derrotado em 2018, Ciro Gomes (PDT) fez dura crítica à possível aliança entre o ex-juiz Sergio Moro e o apresentador Luciano Huck na formação de uma chapa para a eleição de 2022.

“No dia em que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultraesquerda, que eu nunca fui. Moro vendeu a toga em troca de um cargo e é um cara de extrema-direita”, afirmou a jornalistas ontem, em São Paulo, após ser indagado sobre a possível chapa. Moro e Huck se encontraram recentemente e uma aliança entre ambos para 2022 foi discutida.

Ciro chamou de fascista o ex-juiz responsável pela Operação Lava-Jato, que deixou a magistratura após 22 anos para tornar-se subordinado de Jair Bolsonaro.

“O Moro se veste como os fascistas italianos da década de 30. Ele está sempre com uma camisa escura sob um paletó escuro. O Moro é fascista”, afirmou o ex-presidenciável depois de participar de evento na zona Oeste da capital paulista, ao lado do candidato do PSB a prefeito, o ex-governador Márcio França, a quem apoia na eleição municipal.

Ciro também afirmou que o fato de Moro ter condenado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro relacionadas ao caso Petrobras, e depois ter aceitado convite para integrar o governo de seu adversário político, converteu o ex-magistrado em um “grande malandro”.

“O Moro vendeu a toga, prendeu um adversário político, tirou o adversário da eleição e em seguida aceitou ser ministro do adversário político que ganhou a eleição. Isso é uma lesão ética que transforma o Moro em um grande malandro”, afirmou.

Ciro ainda acusou Moro de “acobertar” os filhos do presidente Jair Bolsonaro durante o período em que ocupou o Ministério da Justiça. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) de ser o chefe de uma organização criminosa que desviaria dinheiro dos salários de servidores da Assembleia Legislativa fluminense. Ele o chamou de “um corrupto que, durante o governo Bolsonaro, tudo o que pode fazer fez para acobertar os filhos ladrões do Bolsonaro”.

Ciro sugeriu que o apresentador Luciano Huck não tem preparo e experiência para concorrer em uma chapa presidencial.

“O Luciano Huck é um apresentador de televisão. Ok, é uma das tarefas mais dignas. Mas isso o prepara para enfrentar uma crise social e econômica?”, indagou.

“Só a irresponsabilidade de algumas pessoas da elite brasileira é que permite acreditar nisso”, concluiu o ex-presidenciável do PDT.

Ciro também disparou contra o adversário de França, o candidato a prefeito Celso Russomanno (Republicanos), a quem classificou de “um idiota”.

“Mas é um idiota. O Russomanno vive de explorar essa popularidade que a TV dá, programas popularescos e mundo cão, que ele é do ramo e acha que ele vai transformar o povo em idiota”. Segundo Ciro, Bolsonaro é um “imbecil completo” por apoiar Russomanno.

Já o candidato Márcio França disse em entrevista coletiva que o vereador Milton Leite (MDB) é o prefeito de fato de São Paulo.

“Ele é vereador, mas ele manda nas coisas. E é uma aceitação tácita disso. A gente respeita o voto de vereador, ele é importante, mas ele não pode comandar a prefeitura. Senão a gente vai deixar a raposa tomando conta do galinheiro, que não pode dar em boa coisa”, comparou.