Valor econômico, v. 21, n. 5124, 10/11/2020. Internacional, p. A16
Bolsonaro impõe silêncio sobre sucessão nos EUA
Fabio Murakawa
Cristiano Zaia
Matheus Schuch
10/11/2020
Autoridades e ministérios estão proibidos de fazer projeções econômicas e comerciais em cima da vitória do democrata Joe Biden
O presidente Jair Bolsonaro orientou ministros e auxiliares mais próximos a não se manifestarem a respeito da eleição presidencial nos EUA, que teve o democrata Joe Biden declarado vencedor no fim de semana. Aliado do presidente Donald Trump, derrotado nas urnas, o governo brasileiro vê a situação como “indefinida”.
Além do Brasil, México, Rússia e China também não cumprimentaram a eleição de Biden.
Segundo fontes ouvidas pelo Valor, ministérios, órgãos de governo e autoridades somente poderão fazer comentários após manifestação pública do próprio Bolsonaro ou do Itamaraty.
Pastas como a Economia e a Agricultura, por exemplo, estão proibidas de fazer projeções públicas sobre impactos econômicos e comerciais da vitória democrata.
Bolsonaro declarou apoio a Trump e teve um entrevero, durante a campanha, com o ex-vice de Barack Obama. Em debate, o democrata sinalizou um fundo de US$ 20 bilhões para a Amazônia, mas ameaçou com sanções caso o Brasil não freasse o desmatamento. A resposta veio pelo Twitter.
“O que alguns ainda não entenderam é que o Brasil mudou. Hoje, seu presidente, diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças. NOSSA SOBERANIA É INEGOCIÁVEL.”
Trump não reconheceu a derrota e aponta “fraudes” na votação em Estados em que perdeu, sobretudo por conta dos votos enviados pelo correio. O Partido Republicano endossou essa posição.
Embora o voto postal seja comum nos EUA, a prática aumentou muito nesta eleição por conta do coronavírus. Esses votos foram amplamente favoráveis a Biden, dizem analistas, dada a postura mais cautelosa do eleitor democrata em relação à pandemia.
A situação nos EUA está sendo monitorada pelo Ministério das Relações Exteriores e por auxiliares próximos, como Filipe Martins, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência.
Apesar de poucos acreditarem que Trump possa reverter a situação nos tribunais, a visão no Planalto é que a eleição americana ainda não foi definida.
Ontem, coube ao vice-presidente, Hamilton Mourão, comentar o resultado do pleito e garantir que, “na hora certa”, Bolsonaro parabenizará o vencedor.
Em conversa com jornalistas no Planalto, Mourão ponderou que Bolsonaro estaria aguardando o fim do que chamou de “imbróglio” sobre haver ou não votos falsos.
“É óbvio que, na hora certa, [Bolsonaro] vai transmitir os cumprimentos do Brasil a quem for eleito”, afirmou o vice. “É uma questão prudente, acho que esta semana define as questões que estão pendentes e a gente se prepara para um novo relacionamento [com os EUA].”