Título: Como se chamará o novo papa?
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 13/03/2013, Mundo, p. 18

Nome escolhido pelo pontífice pode revelar a tendência no comando da Igreja. Casas de aposta sociólogo sugerem que líder católico será Leão XIV

Tão grande quanto a expectativa sobre quem será o futuro papa é o nome que ele escolherá. Eleito, o líder da Igreja Católica — assim como os missionários bíblicos — assumirá nova alcunha, em sua primeira mensagem aos fiéis. O sociólogo brasileiro Luiz Alberto Gomez de Souza arriscou que o próximo papa será chamado de Leão XIV, uma sugestão que figurava como a favorita nas casas de apostas de vários países. O nome do papa pode ser simplesmente uma homenagem a líderes do passado. Mas ele também revelaria uma identificação com o trabalho conduzido durante seu pontificado. Leão XIII entrou para a história do catolicismo com a encíclica Rerum Novarum (15 de maio de 1891), que significou uma das maiores transformações da Igreja, levando-a à problemática industrial da época, no contexto do surgimento da classe operária. A correlação poderia ser feita com a expectativa de mudança vivenciada pelo mundo católico depois da renúncia histórica do papa alemão Bento XVI.

Para Souza, diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes (Rio de Janeiro), a inspiração no nome de Leão XIV poderia ser uma possibilidade pelo fato de estar próximo na história e por seu importante papel de transformação para a Igreja Católica no fim do século 20. “Depois de dois papas muito reacionários, Gregório XVI e Pio IX, Leão XIII foi muito mais aberto”, disse. O contexto histórico é diferente e não há comparação com pontificados reacionários, mas o momento é de mudança.

O sociólogo lembrou que Leão XIII, apoiado pelo importante teólogo inglês John Newman, deixou de legado a Encíclica Rerum Novarum, que tratava da questão social e do mundo do trabalho. “Foi a primeira grande encíclica social”, disse Souza. Com a Revolução Industrial, o fim do século 19 foi um tempo de lutas sociais e de movimentos sindicais, para os quais a Igreja não estava preparada. “A Igreja da época estava atrasada com relação aos movimentos sociais. Mas Leão XIII deu um passo grande para colocá-la no centro da nova problemática industrial, que era o surgimento da classe operária.”

Assim como naquele período, compara o sociólogo, a Santa Sé está diante de grandes desafios de modernização. Além de questões relacionadas a seu funcionamento, limitado a uma Cúria rígida e burocrática, há os novos temas. “Assim como Leão XIII falou da classe operária, acho que hoje temos a questão da mulher”, afirmou, acrescentando as questões do celibato obrigatório e dos contraceptivos. “Eles precisam ser discutidos livremente e o papa deveria colocá-los em debate.”

Cotações

As principais casas de aposta britânicas mostraram que o nome favorito era Leão, com uma cotação de 1,25 para 1. Em seguida, estavam Pedro (2 para 1), Gregório (5 para 1), Pio (6 para 1) e João Paulo (8 para 1). As chances de o pontífice optar por Pedro, porém, são quase zero. Nenhum dos sucessores do apóstolo de Jesus Cristo escolheu ser chamado de Pedro II. Segundo estimativa feita pela revista The Economist, com base nesses dados, as probabilidades de o próximo papa ser Leão são de 42%.

Apesar dos números, o nome não é unanimidade entre os especialistas. O professor William Portier, diretor do Departamento de Teologia Católica da Universidade de Dayton (Ohio, EUA), Leão não teria muito significado nesse momento. Ao contrário de Souza, Portier disse acreditar que o pontífice está “muito longe na história”. “Eu ficaria desapontado se a escolha fosse Leão”, disse. Para o americano, Leão foi um papa mais aberto, que ajudou a transformar o Vaticano, mas o ideal seria “algo novo”. “Espero que eles escolham um novo nome, algo elaborado, voltado para o futuro.”

Na avaliação do teólogo, o nome é parte importante da escolha do novo papa e pode ser entendido como o primeiro sinal de sua liderança à frente da Igreja. “Tem muito a ver com o modo com que o papa entende o chamado que Deus está fazendo a ele”, opinou. Os dois entrevistados concordaram que o mais importante sobre as indicações do novo papado estará além do novo nome. Serão suas primeiras medidas, como a escolha do secretário de Estado do Vaticano, e as primeiras publicações que realmente contarão.

“Ele transparecia humanidade, parecia muito próximo de nós” Matheus Mendes Martins, 28 anos, mineiro

“o GESTO DE BEIJAR O CHÃO DOS LUGARES aONDE CHEGAVA ERA ALGO INCRÍVEL” Pedro Rodrigues Lopes, 29 anos, mineiro

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Número de anos de duração do pontificado do polonês João Paulo II.

Johannes Eisele/AFP Fiéis se concentram na Praça de São Pedro, à espera de notícias do conclave: identidade pode ter ligação com mudançaReprodução/WikipediaJOÃO PAULO II ESTÁ EM TODOS OS LUGARES» DIEGO AMORIM Enviado especial Cidade do Vaticano — Já se passaram quase oito anos desde a morte de João Paulo II. O sucessor do papa polonês no trono de São Pedro, Bento XVI, já chegou e saiu. Os cardeais, assombrados pelo que chamam de crise da modernidade, começaram ontem eleger um novo pontífice. No meio do povo, a referência de líder da Igreja continua a ser Karol Wojtyla, o homem que conquistou o carinho e o respeito do mundo e se tornou um dos mais influentes do século passado.

No Vaticano, pode-se vê-lo por todos os lados. As lojas de suvenires e de artigos religiosos ao redor da Praça de São Pedro exploram ao máximo o potencial mercadológico da imagem de João Paulo II. Terços, cartões-postais, livros, ímãs, chaveiros, pratos decorativos, calendários: em quase todos os itens expostos, o dono do terceiro maior pontificado da história da Igreja — 26 anos — está presente. Mais até que o próprio Bento XVI.

O nome de “Giovanni Paolo” é menção obrigatória nas visitas guiadas da Basílica e do Museu do Vaticano. Alguns italianos até hoje recordam as aparições do polonês, diante das janelas do Palácio Apostólico. Não à toa, a cerimônia de beatificação de João Paulo II, dois anos atrás, reuniu mais de 1 milhão de pessoas em Roma. Na época, cartazes afixados por toda a capital, e até os bilhetes de ônibus e de metrô, estampavam o rosto do papa falecido em 2005.

Emoção

Naquele mesmo ano, a Santa Sé decidiu trasladar os restos mortais de João Paulo II do cemitério subterrâneo — que abriga os túmulos da maior parte dos pontífices — para o altar da capela de São Sebastião, na Basílica. O lugar, um dos mais disputados pelos turistas, possui área reservada para oração, onde é proibido fotografar ou filmar. Alguns fiéis chegam a chorar diante do altar dedicado ao polonês.

De férias na Europa, os mineiros Pedro Rodrigues Lopes, 29 anos, e Matheus Mendes Martins, 28, não quiseram voltar para o Brasil sem antes visitar o túmulo do beato. “Ele transparecia humanidade, parecia muito próximo de nós”, lembra Matheus. “O gesto de beijar o chão dos lugares aonde chegava era algo incrível”, completa o amigo. Como lembrança do Vaticano, Matheus levou um terço com a imagem de João Paulo II.

O pontificado do polonês também segue vivo na memória de autoridades da Igreja. Em gabinetes e em salas de recepção do Vaticano, João Paulo II ainda sorri em fotos, assim como na embaixada brasileira junto à Santa Sé. “Dizemos por aqui que tínhamos dois papas”, conta o padre Cesar Augusto dos Santos, responsável pelos programas brasileiros na Rádio Vaticano. Em breve, serão três. Diego Amorim/CB/D.A Press Loja expõe foto de João Paulo II (D): imagem do polonês tem forte apelo mercadológico