Título: Campanha agressiva
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 13/03/2013, Mundo, p. 21

Nicolás Maduro, presidente interino da Venezuela, ataca a sexualidade do rival. Capriles o acusa de homofóbico

A campanha eleitoral na Venezuela já começou com um sinal de que os candidatos estão dispostos a qualquer coisa para chegar ao Palácio de Miraflores. Até mesmo a baixar o nível. Um dia depois de questionar a orientação sexual de Henrique Capriles, o presidente interino, Nicolás Maduro, teve uma resposta rápida do opositor. “Eu quero enviar uma palavra de respeito, de consideração e de rechaço às declarações homofóbicas de Nicolás. Não é a primeira vez. (…) Isto é fascismo e eu vou pedir respeito, porque eu quero um país de inclusão”, declarou Capriles.

A insinuação de que o rival seria gay, pelo fato de ser solteiro, foi feita na segunda-feira, quando Maduro “apresentou” a mulher, Cilia Flores. “Eu, sim, tenho mulher, escutaram? Gosto de mulheres. Que bom é um beijo de uma mulher, não é verdade?”, afirmou. Maduro costuma usar o apelido de “senhorito” para se referir ao adversário. Na semana passada, Jacqueline Faria, chefe de governo do Distrito Capital de Caracas, também polemizou, em sua página no microblog Twitter. “#CaprilesEnNuevaYork será mais fácil sair do armário em Nova York do que em Los Teques?”, questionou, ao citar a capital do departamento (estado) de Miranda, governado por Capriles.

“Maduro está desesperado. Os governistas sabem como foi duro para Chávez vencer em outubro. Capriles se refere a ele como Nicolás, com intimidade. As únicas armas de Maduro para a campanha são uma foto de Chávez e dizer que ele é ‘filho’ do ex-presidente. Tudo isso é patético”, declarou ao Correio, por e-mail, Pedro Burelli, analista político e ex-diretor da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA). Ele prevê uma campanha bastante curta, mas cheia de escaramuças. “Será muito mais agressiva que a de outubro, pois ninguém tem que se cuidar. Para ganhar, Capriles terá que atacar muito duramente e Maduro precisará se parecer com Chávez”, prevê Burelli.

Mariana Bacalao, professora de ciência política da Universidade Central da Venezuela, critica o tom bastante agressivo da mensagem de Maduro. “O que o país deseja é reconciliação e convivência”, disse, também em entrevista pela internet. Com a nação cada vez mais polarizada, o chanceler Elías Jaua avisou que os governistas não trairão a memória do presidente. “Ao comandante Chávez nem um minuto de silêncio, mas uma vida de combate”, comentou.

Capriles decidiu sair da postura defensiva e adotar uma postura mais ofensiva. “Nicolás já tem quatro meses governando e vejamos o desastre. Pacotaço (desvalorização da moeda bolívar em 31,8% em relação ao dólar), mais inflação, mais escassez, mais insegurança e mais desemprego. Vejamos o que ele tem feito em quatro meses e imaginemos cinco anos mais. Está em nós que isso não aconteça, é preciso ativarmos todo o país, vamos!”, conclamou o opositor, que ontem lançou o perfil @ComandoSB (Comando Simón Bolívar) no Twitter.

Os chavistas ativaram, ontem, o Comando de Campanha Hugo Chávez, e anunciaram o começo de uma “batalha permanente”. Porta-voz da organização, Jorge Rodríguez, chamou Capriles de “canalha”. “Este canalha nem sequer foi capaz de acudir o Conselho Nacional Eleitoral para postular sua candidatura. Até quando tanto ódio, quanto mais deve suportar o povo da Venezuela por parte desse tipo de gente?”, perguntou Rodríguez. Depois de inscrever sua candidatura, na noite de segunda-feira, Capriles enviou um recado a Maduro: “Esta campanha é entre mim e você, Nicolás, deixe o presidente (Chávez) em paz”, declarou.

Inquérito

Em entrevista à rede de tevê Telesur, Maduro revelou que o Executivo já trabalha com a formação de uma comissão de inquérito para investir um possível envenenamento de Chávez. “Ele tinha uma doença, um câncer, que em seu momento se conhecerá que rompia todas as regularidades dessa enfermidade”, assinalou o presidente interino. O governo venezuelano pretende convidar cientistas estrangeiros renomados para integrar o painel, ao suspeitar que Chávez tenha sido vítima de “forças obscuras”. “Ele tinha a intuição de que foi assim. Chávez tinha um cãncer que fugia do padrão e foi ameaçado muitas vezes… Tudo indica que conseguiram afetar a saúde do presidente com as técnicas mais sofisticadas”, comentou Maduro.

Novo cortejo fúnebre na sexta-feira

Com a presença dos chefes de Estado Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), o corpo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, será levado, na sexta-feira, em cortejo da Academia Militar de Caracas para o Museu Histórico da Revolução Bolivariana, situado no Quartel de la Montaña, dentro da favela chavista 23 de Enero, na região oeste da capital. “Convidamos todos os nossos povos. (…) Será um até sempre”, comentou o presidente interino, Nicolás Maduro, a quem chamou Chávez de “o maior filho que o libertador Simón Bolívar já teve”. O local que abrigará provisoriamente o corpo do líder bolivariano tem uma razão simbólica. Foi ali que, em 1992, Chávez se refugiou ao tentar comandar um golpe de Estado contra Carlos Andrés Pérez.

Eu, sim, tenho mulher, escutaram? Gosto de mulheres. Que bom é um beijo de uma mulher, não é verdade?”

Nicolás Maduro, presidente interino da Venezuela

Isso é fascismo e eu vou pedir respeito, porque eu quero um país de inclusão” Henrique Capriles,líder da oposição no país