Título: Confusão e ofensas na estreia do pastor
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2013, Política, p. 4

Marco Feliciano presidiu sua primeira sessão na Comissão de Direitos Humanos em meio a protestos. A reunião quase acabou em pancadaria entre parlamentares

A primeira sessão da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados presidida pelo pastor Marco Feliciano (PSC-SP) acabou em troca de ofensas e quase em pancadaria. O clima tenso entre manifestantes contrários ao parlamentar e evangélicos que o defendem acabou contaminando os próprios deputados, que bateram boca e, por pouco, não se agrediram fisicamente. Mesmo com a confusão, a comissão aprovou seis requerimentos, sem que houvesse tempo para debate sobre os documentos. Feliciano minimizou o tumulto. “Foi muito melhor do que eu esperava”, declarou.

A reunião estava marcada para as 14h mas, desde o início da manhã, um grupo de evangélicos ocupou a sala onde ocorriam os trabalhos de outra comissão. Quando os seguranças chegaram para limitar a entrada, o plenário já estava cheio, e apenas cerca de 20 manifestantes contra Feliciano conseguiram participar. Ainda assim, eles fizeram barulho e exaltaram os ânimos dos parlamentares. “Ofereço minha senha do cartão em troca da sua renúncia”, protestavam os ativistas, fazendo referência ao vídeo em que Feliciano pede a senha de um fiel durante um culto.

Ao chegar, Marco Feliciano leu uma carta se defendendo. “Se alguém se sentiu ofendido por alguma colocação minha em qualquer época, peço as mais humildes desculpas e coloco meu gabinete à disposição para dirimir quaisquer dúvidas. Peço um voto de confiança”, afirmou o pastor, sob gritos e vaias dos ativistas. Ao longo da sessão, o deputado do PSC tentou esconder o nervosismo e destacou diversas vezes que era o presidente da comissão e, portanto, tinha o poder de dar a palavra aos demais integrantes, negando pedidos de verificação do quórum feitos por parlamentares do PT e do PSOL. Feliciano também elevou o tom contra os manifestantes. “Se os senhores não pararem (de gritar), vou ter que esvaziar a sessão, não façam dela um circo. Não vou ceder à pressão”, ameaçou.

Os evangélicos que participaram da sessão aplaudiam as palavras do pastor. Um deles tirou satisfação com o deputado Mário Heringer (PDT-MG), contrário a Feliciano, e quase apanhou do parlamentar. “Sou evangélico, estou aqui para defender a família e só tinha perguntado por que o deputado estava defendendo aquelas pessoas”, justificou Jonatas Ferro, que foi levado para fora do plenário por seguranças para evitar confusão. Mas foi o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) quem protagonizou as principais cenas de tumulto dentro do plenário, antes, durante, e depois da sessão, provocando os manifestantes homossexuais. Além de criticá-los em voz alta, o parlamentar escreveu à caneta uma frase pejorativa sobre a relação sexual entre homens e a exibiu às câmeras. Imediatamente, os ativistas gays reagiram e só não bateram no deputado porque seguranças intervieram.

No auge da tensão, Jair Bolsonaro ainda sorriu ao provocar a ira do deputado Domingos Dutra (PT-MA). Sentado ao lado do presidente, sem ter sido eleito para participar do comando da comissão, Bolsonaro afastou com as mãos o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), que tentava pedir a Feliciano o direito de falar ao microfone. Em defesa do colega de partido, Dutra tentou agredir Bolsonaro, mas foi impedido pelos outros parlamentares. Em seguida, o petista deixou a reunião ao lado de Érika Kokay (PT-DF).

Ao fim da sessão, Marco Feliciano saiu escoltado por dezenas de seguranças, enquanto manifestantes ocupavam os corredores da Câmara. Antes, fez declarações de quem parecia não ter presenciado o ocorrido à sua frente: “Eu não vi violência nem confusão, mas democracia. Houve, sim, um pouquinho de tumulto, mas conseguimos aprovar toda a pauta, que era linda.”

Entenda o caso Acordo de partidos A chegada de Marco Feliciano (PSC-SP) à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) é resultado de uma série de acordos e concessões políticas na Câmara. O colegiado era comandado pelo PT no ano passado e seria a quarta comissão dos petistas este ano, mas a legenda teve direito a apenas três comissões. Na divisão, a de direitos humanos ficou no fim da fila.

Por conta do tamanho das bancadas, o PSC seria o 20º a escolher entre os 21 colegiados. Queria a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, mas acabou aceitando a última opção. Para garantir que os temas pautados pelo presidente teriam apoio no grupo, o líder do partido negociou mais vagas com outras legendas, como PMDB, PP e PSDB. Com isso, o Partido Social Cristão (PSC) tornou-se o maior da CDHM, com cinco vagas de titulares e três de suplentes.

Na semana passada, o PSC escolheu Feliciano para comandar a comissão, apesar das manifestações contrárias. A decisão tem sido alvo de protestos desde então e tornou-se tema de debate no colégio de líderes da Casa, quando o líder da legenda, André Moura, foi pressionado a reconsiderar a escolha. Em reunião na última terça, a bancada reafirmou que o pastor permanece no cargo sob pena de provocar o desgaste da imagem do partido e dos evangélicos.