Título: Pressionada por partidos, Dilma protela reforma
Autor: Correia, Karla; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2013, Política, p. 6

Aliados cobram mais espaço na Esplanada. Desafio do governo será acomodar o PSD de Gilberto Kassab e realocar os representantes de mais três legendas

Diante da ansiedade dos partidos políticos pela reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff sinalizou ontem que a espera pode arrastar-se por mais tempo. “Eu não vou falar sobre isso, porque não é meu tema esta semana”, disse Dilma a jornalistas ontem, ao sair de solenidade no Palácio do Planalto. Depois de conversar com o PMDB — ela encontrou-se com o vice-presidente Michel Temer na terça-feira à noite —, Dilma retomou o diálogo com os aliados do PSD. Estava previsto um jantar na noite de ontem, no Palácio da Alvorada, com o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab.

A expectativa era que, nesse encontro, Dilma formalizasse o convite para que o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD), assuma a recém-criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa. O movimento incorporará oficialmente o PSD à base de apoio do governo no Congresso. Mas os pessedistas têm encaminhado mensagens de que gostariam de mais espaço. Uma das possibilidades seria a indicação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão, para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), responsável por organizar os encontros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Conselhão.

Outra opção, menos atraente aos olhos do PSD, seria a indicação de um nome do partido para um dos dois novos cargos que serão criados até o fim deste mês na cúpula da Caixa Econômica Federal: a vice-presidência de governo e a vice-presidência de Habitação. Coincidentemente, Paulo Simão foi um grande auxiliar da presidente Dilma na concretização do programa Minha Casa, Minha Vida. “O PSD tem 54 deputados, é a terceira maior bancada. Pode até ser que Kassab aceite, mas um ministério discreto como o da micro e pequena empresa e uma vice-presidência da Caixa estão aquém da importância da legenda”, explicou um interlocutor do PSD.

O PMDB também ainda enfrenta resistência e problemas internos para apresentar seus pré-candidatos. O vice-presidente Michel Temer deixou o Palácio da Alvorada na noite da última terça-feira com o acerto praticamente fechado com a presidente Dilma Rousseff pela indicação do peemedebista Antônio Andrade para o Ministério da Agricultura. Presidente do PMDB de Minas, Andrade é visto no Palácio do Planalto como uma das indicações mais sólidas na já muito protelada reforma ministerial que Dilma pretende realizar desde o fim do ano passado.

Na noite de ontem, contudo, uma comissão de peemedebistas do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina foram ao gabinete de Temer pedir pela manutenção de Mendes Ribeiro no Ministério da Agricultura. A situação de Moreira também preocupa a cúpula do partido. A intenção é propor que ele seja transferido para a SAE — cargo que está sendo cobiçado pelo PSD — em vez de retornar à Câmara. O atual ministro da Agricultura está fragilizado por uma longa luta contra um câncer. Além disso, se ele retomar o cargo de deputado, o peemedebista Eliseu Padilha (RS) teria que voltar à suplência. Padilha é visto como um hábil articulador, capaz de conter o ímpeto do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ).

Outro grupo do PMDB também ficou indócil diante das especulações de que Moreira Franco — que possivelmente deixará a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) — seria transferido para o Ministério do Turismo. Citado pelo noticiário como provável demissionário, o chefe da pasta, Gastão Vieira, foi acalmado pelo vice-presidente, que lhe assegurou a permanência no cargo. A intenção do PMDB é garantir a indicação de Moreira Franco para a Secretaria Nacional de Aviação Civil, ocupada atualmente pelo ex-diretor de infraestrutura do BNDES Wagner Bittencourt. A pasta também é cobiçada pelo PSD.

A dificuldade da presidente em abrigar na Esplanada as demandas dos aliados PR e PDT é o principal obstáculo para a conclusão da reforma. O PDT definiu que o indicado para o Ministério do Trabalho será o atual secretário-geral do partido, Manoel Dias. O PR insiste na indicação do deputado Luciano Castro (RR) para uma vaga na área dos Transportes.

Guinada

Eliseu Padilha, hoje considerado indispensável pelo governo no papel de articulador no Congresso, foi visto com desconfiança pelo PT quando a presidente Dilma Rousseff decidiu nomear Mendes Ribeiro para o Ministério da Agricultura. Padilha tem um histórico de proximidade com o PSDB e foi ministro dos Transportes durante o governo de FHC. Mas ele ganhou a confiança do PT e do governo dizendo que era um homem de partido e seguiria a orientação da legenda.