Título: Dúvidas sobre o embalsamamento
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Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2013, Mundo, p. 14

Após consultar especialistas internacionais, Nicolás Maduro admite dificuldades para conservar o corpo do líder venezuelano Hugo Chávez. Segundo ele, os preparativos deveriam ter começado "muito antes"

O presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou ontem que será “bastante difícil” embalsamar o corpo de Hugo Chávez. O governo havia anunciado essa intenção logo após a morte do líder venezuelano, em 5 de março, em decorrência de um câncer na região pélvica. “Recebemos cientistas do mais alto nível, os melhores do mundo, da Rússia e da Alemanha (...), e as notícias e as opiniões nos dizem que será bastante difícil, porque os preparativos deveriam ter começado muito antes”, disse Maduro, em transmissão à emissora de televisão estatal.

O anúncio do embalsamamento havia acontecido em 7 de março, quando o atual líder da Venezuela revelou a vontade de conservar o corpo de Chávez a fim de que fosse visto “para sempre”. “Realmente, essa proposta que se fez foi produto do amor e das conversas que tivemos com alguns dos presidentes que vieram (à Venezuela), que nos disseram para fazer isso”, revelou Maduro. “Tenho a responsabilidade máxima de informar esses passos para que todo mundo saiba que há dificuldades para que façamos o mesmo que se fez com Lênin, Ho Chi Minh e Mao Tse Tung”, concluiu.

O corpo de Chávez ficará na Academia Militar até a madrugada de amanhã, quando será levado no mesmo dia para o Quartel de la Montaña, a oeste de Caracas. Milhares de pessoas já viram os restos mortais do líder, que circularam por várias ruas da capital venezuelana. A partir de terça-feira, o parlamento do país debaterá uma emenda constitucional para permitir que Chávez descanse no Panteão Nacional, com o libertador Simón Bolívar. Mas, segundo a Constituição venezuelana, são necessários 25 anos após o falecimento para se trasladar um herói ao Panteão.

Homenagem A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, prestou homenagem ontem ao legado social deixado por Hugo Chávez. A lembrança ao líder venezuelano aconteceu no mesmo local onde Chávez pronunciou um dos seus discursos mais famosos, chamando o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de “diabo”. “A História, sem dúvida, lembrará do presidente Chávez, um carismático líder cujas políticas progressistas reduziram a taxa de pobreza na Venezuela”, disse o presidente da Assembleia Geral da ONU, o sérvio Vuk Jeremic, ao abrir a cerimônia.

Além da presença do chanceler venezuelano, Elías Jaua, a homenagem contou com a participação do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Logo no início do encontro, foi exibido um vídeo com imagens da vida de Chávez. Também apareceram citações de algumas de suas frases mais conhecidas e mensagens de seus admiradores. Depois de pedir um minuto de silêncio, Jeremic fez um apelo para que sejam deixadas de lado as “diferenças pessoais e políticas” no momento de lembrar Chávez, destacando o seu “trabalho duro para melhorar a vida dos venezuelanos, especialmente os mais pobres”.

A cerimônia foi realizada no recinto onde se reúne habitualmente a Assembleia Geral das Nações Unidas. Uma vez por ano, em setembro, o local é ocupado por líderes de todo o mundo para a abertura das sessões. Em 20 de setembro de 2006, Chávez protagonizou um dos momentos mais lembrados de sua carreira política ao fazer referência explícita a Bush. “Ontem, o diabo esteve aqui, neste mesmo lugar. Esta mesa onde começo a falar ainda cheira a enxofre!”, afirmou, à época. O chanceler Jaua lembrou a frase como um símbolo da luta pela libertação da América Latina. “Estão homenageando um homem bom”, resumiu o chanceler.