Título: Um líder mais próximo do povo
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Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2013, Sucessão no Vaticano, p. 1

No Brasil, a escolha de um latino foi bem recebida pela Igreja. O nome do pontífice agradou os fiéis, que estão otimistas em relação ao futuro do catolicismo

A escolha de um papa latino-americano agradou a Igreja Católica brasileira, que tinha entre seus integrantes um dos principais candidatos à comandar a Santa Sé, o cardeal Odilo Scherer. Ontem, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou que, por ser jesuíta e não ter origem europeia, Francisco deverá ficar mais próximo ao povo. Em nota, o governo brasileiro cumprimentou os argentinos pela eleição do cardeal do país vizinho, lembrando que o Brasil é a nação com maior número de católicos no mundo. A CNBB também confirmou a visita do novo papa ao Brasil em julho, para participar da Jornada Mundial da Juventude.

“Estamos satisfeitos por termos um papa latino-americano”, comemorou o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, em entrevista coletiva logo depois do anúncio da escolha por Francisco. “Fomos surpreendidos com a eleição”, acrescentou o bispo, explicando que o cardeal argentino pode levar ao Vaticano a experiência da evangelização, que é exercida na América do Sul. “A escolha vem mostrar que a igreja se abre e está voltada para todos e não é só para a Europa.”

Dom Leonardo destacou a importância da visita de Francisco ao Brasil, durante a 38º Jornada Mundial da Juventude, que ocorrerá de 23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro. “Ele certamente virá”, afirmou. Em nota, a presidente Dilma Rousseff também falou sobre a viagem do pontífice. “É com expectativa que os fiéis aguardam a vinda do papa. Essa visita, em um período tão curto após a escolha do novo pontífice, fortalece as tradições religiosas e reforça os laços que ligam Brasil e Vaticano”, informou o comunicado.

A presidente também comentou a eleição do cardeal do país vizinho. “Em nome do povo brasileiro, congratulo o novo papa Francisco e cumprimento a Igreja Católica e o povo argentino”, diz o comunicado, lembrando que o Brasil, por ser o “maior país em número de católicos”, acompanhou com atenção o conclave e a escolha do primeiro papa latino-americano. O Palácio do Planalto vai enviar uma missão ao Vaticano, no próximo dia 19, para saudar o novo pontífice.

Segundo o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que é católico praticante, as informações que o governo obteve da CNBB sobre o cardeal Jorge Mário Bergoglio, hoje Francisco, contrariam especulações sobre a ligação dele com o regime militar argentino. De acordo com Carvalho, o papa teria sido uma das primeiras vozes contra a ditadura.

Tempo de mudança A eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio para o posto de papa foi recebida com alegria pelos jesuítas de Brasília. Para o padre Ramón Cigoña, diretor do Centro Cultural de Brasília, mantido por religiosos dessa ordem, a escolha revela o desejo de “reconstrução” da Igreja. “Estamos em tempo de mudança, e os cardeais sabem muito bem quem elegeram. A situação eclesiástica mundial é complicada e eles escolheram um jesuíta, cuja vocação é ajudar. O cardeal é um homem firme. Ele não é da Cúria e seu compromisso é com Jesus”, explicou Cigoña. O religioso chamou a atenção para a sequência de quebra de paradigmas que envolvem a escolha do novo pontífice — primeiro papa jesuíta, da América Latina, e chamado Francisco — e insinuou que mais mudanças podem estar à caminho. “O papa falou em fraternidade em seu primeiro discurso. Imagino que os católicos em situações consideradas diferentes não serão excluídos”, observou.

Cigoña também ressaltou a importância da nacionalidade do pontífice, que é argentino, para a revitalização da Igreja. “Os europeus estão perdendo espaço e eu penso que isso é bom. É importante que venha alguém do outro lado do Atlântico para ser Bispo de Roma, e papa, pois a Igreja aqui na América é muito viva”, avaliou. O nome escolhido pelo cardeal Bergoglio agradou ainda os freis franciscanos. No Santuário de São Francisco de Assis em Brasília, a missa da noite passada foi iniciada com menção ao nome de Francisco. “Foi uma surpresa interessante”, avaliou o pároco Casemiro Cieslik. “Ele provavelmente dirigirá a igreja como São Francisco desejava, com simplicidade e amor ao próximo. Os cardeais acreditam que a igreja precisa desse olhar”, ponderou o religioso.

Entre os fiéis, a escolha do novo papa foi recebida com otimismo. Surpreso com a rapidez do resultado do conclave, o estudante Victor Costa, 22 anos, conta ter ficado apreensivo sobre o perfil do novo líder dos católicos. “Quando vi quem ele é, achei excelente. Gostei muito por ele ser jesuíta e ter escolhido o nome Francisco, pois essa é uma referência de pregação da paz”, declarou.

A paisagista Maria das Graças Souza, 56 anos, acredita que o novo papa trará mudanças ao catolicismo. “Espero que ele faça com que a Igreja se aproxime mais do povo. A gente evoluiu e a igreja tem que evoluir também”, disse ela.