Título: Crise passa longe do comércio varejista
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 15/03/2013, Economia, p. 10

Bons índices de vendas são reflexo do aumento de renda e crédito e deverão se manter ao longo do ano. Supermercados estão entre os segmentos com melhor desempenho

Enquanto os números da indústria ainda estão longe de convencer, o comércio varejista mostra o vigor de quem ainda não conheceu a palavra crise. Em janeiro, as vendas desse setor avançaram 5,9% sobre o mesmo mês de 2012, e 0,6% na comparação com dezembro. Nesse confronto, que exclui fatores sazonais, ocorreu o sétimo resultado positivo dos últimos oito meses, segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para analistas, o bom desempenho é reflexo do conjunto de ações adotadas pelo governo para bombar a demanda interna, como desonerações de impostos, valorização do salário mínimo e a manutenção do mercado de trabalho ainda aquecido. Diante desse arsenal de medidas pró-consumo, não faltaram pessoas dispostas a abrir a carteira. "É uma forma de terapia", justificou a secretária Karen Nascimento, 29 anos, que gasta boa parte do salário de R$ 1 mil com roupas e sapatos.

Como Karen, milhões de brasileiros só se mantiveram ávidos por consumo porque ainda estão empregados: "Se você sabe que não vai ser mandado embora, ainda que ganhe pouco, poderá se comprometer com compras de longo prazo", assinalou o economista Reinaldo Pereira, do IBGE.

Otimismo

Com os consumidores sem pena de gastar, o comércio tem faturado mais. Em janeiro, 65% da alta de 5,9% nas vendas se deveram ao desempenho de apenas três segmentos pesquisados: hipermercados e produtos alimentícios; outros artigos de uso pessoal; e móveis e eletrodomésticos. Não por acaso, todos esses itens possuem estreita ligação com fatores como renda e crédito, que se mantêm em alta mesmo com o desempenho pífio do Produto Interno Bruto (PIB).

Diante desse cenário, analistas reforçam o otimismo para o restante do ano. "Pelas condições favoráveis no mercado de trabalho, as baixas taxas de juros reais e o nível da confiança dos consumidores, avaliamos que a tendência para as vendas é de expansão nos próximos meses", sinalizou o economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco.

Em sintonia, o Departamento Econômico do HSB escreveu, em análise a clientes, que os números de janeiro já sinalizam impulso mais forte da economia neste início de ano. Isso, apesar dos números classificados como "decepcionantes" para a venda de automóveis, que recuou 1,2%, após o governo determinar o retorno gradual das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros, cujo desconto cheio vigorou até 31 de dezembro de 2012.

Para os economistas da consultoria LCA, além de inesperada, a retração no mercado de automóveis deve ser encarada como um movimento isolado, que não deverá atrapalhar o desempenho do comércio para o restante do ano. "Por isso", diz um relatório preparado pela consultoria, "mantivemos inalterada em 6% nossa projeção para o crescimento do volume de vendas do em 2013".