Título: Brizola Neto cai e fica isolado no PDT
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2013, Política, p. 4

Defenestrado do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) pela presidente Dilma Rousseff na sexta-feira, o ex-ministro Brizola Neto sofreu ontem outra derrota política: o grupo alinhado a ele não conseguiu protocolar candidatura à presidência do PDT e vai recorrer à Justiça. Até as 18h de ontem, prazo para a inscrição de chapas, seus aliados não conseguiram o número mínimo de assinaturas exigidas pelo estatuto da legenda.

Sem direito a cadeira no Congresso — Neto era suplente e sua vaga foi preenchida — o demitido via na eleição à presidência da sigla a saída para se manter no jogo político. A demissão do ministério, entretanto, atrapalhou os planos e, ainda na sexta-feira, os aliados do atual presidente e candidato à reeleição, Carlos Lupi, já contabilizam votos de cerca de 360 delegados dos 420 aptos a votar na próxima sexta-feira.

O grupo de Brizola Neto questionará dois pontos na Justiça, que segundo eles desrespeitam o estatuto da legenda. O primeiro é o suposto descumprimento do prazo para a inscrição de chapas. Ele foi aberto em 4 de março e deveria ficar aberto por, pelo menos, um mês, alegam. O outro é a cidade onde ocorrerá a eleição, Luziânia, que,segundo ele, apresenta dificuldade de acesso aos delegados. “Há uma série de irregularidades e não vamos deixar assim”, afirmou Eduardo Azeredo Costa, presidente da Fundacentro, instituição subordinada ao MTE.

Mesmo enfraquecido, o recém-demitido tentou até o último momento recolher o apoio para lançar seu nome. “Temos que reconhecer que a articulação do Lupi é extremamente forte. Mas a gente tem que estar na luta para ganhar ou perder”, defendeu o deputado federal Giovani Cherini (RS). Não adiantou.

“Sem protagonismo”

O grupo brizolista se sentiu traído pela presidente Dilma Rousseff. Sua minirreforma ministerial às vésperas da convenção do partido, foi vista como desrespeitosa. Para esses, a legenda se rendeu ao fisiologismo e se tornou uma sigla sem protagonismo, refém dos humores da presidente. “É um partido inexpressivo, irrelevante e submisso. A prova é que só tem uma semana para uma convenção, a presidente tira um ministro e manipula as decisões internas do PDT”, disse um parlamentar.

A eleição no próximo dia 22 é mais um capítulo da novela de brigas internas dentro do partido. Desde a escolha de Brizola Neto, tido como da cota pessoal de Dilma Rousseff, as diferenças se evidenciaram ainda mais. Aliados de Lupi avaliam que Brizola Neto foi inábil na condução da pasta e na relação com a bancada no Congresso.

A única vez em que se reuniu com deputados e senadores foi na ausência do líder do PDT na Câmara, André Figueiredo. Sua falta de prestígio no parlamento é tanta que somente dois deputados assinaram a lista de apoio à sua chapa. Nem os chamados independentes, grupo formado pelo deputado Antônio Reguffe (DF) e os senadores Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (TO), assinaram o documento.

Parte do grupo chegou, inclusive, a protocolar apoio a Carlos Lupi, demitido do mesmo ministério em 2011 por irregularidades em convênios. Depois de avaliar que não conseguiriam o número de assinaturas para lançar uma candidatura alternativa, Cristovam Buarque e Taques assinaram apoio à chapa do atual presidente, impondo algumas condições. Os senadores, entretanto, não gostaram de saber pela imprensa da indicação de Manoel Dias para o Ministério do Trabalho e, ainda ontem, retiraram o apoio. Ainda assim, Brizola Neto conta com o apoio dos deputados Giovani Cherini (RS) e Paulo Rubem Santiago (PE).

"Temos que reconhecer que a articulação do Lupi é extremamente forte. Mas a gente tem que estar na luta para ganhar ou perder" Giovani Cherini, deputado