Título: Insaciáveis por cargos
Autor: Rothenburg, Denise; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2013, Política, p. 2
Logo depois da posse dos três novos ministros, aliados de Dilma já disputam indicações em agências reguladoras e estatais
Ciente da necessidade de agradar os aliados para evitar uma debandada em 2014, a presidente Dilma Rousseff deu posse ontem a três novos ministros sinalizando que a minirreforma pode ser mais profunda. Nas entrelinhas do discurso, peemedebistas viram a oportunidade de ter as portas abertas no segundo e no terceiro escalão e, ao contrário do que tem feito Dilma até então, conseguir nomeações em secretarias e em cargos em que ela tem preferido técnicos. E os insaciáveis já demonstram preferências: diretorias de agências reguladoras e estatais.
A posse dos ministros Moreira Franco (Aviação), Antônio Andrade (Agricultura) e Manoel Dias (Trabalho) ontem no Planalto está longe de resolver de uma vez por todas o relacionamento entre Dilma e a base aliada. Além dos partidos que ainda não foram chamados a integrar o governo, caso do PR e do PTB, aqueles que já foram contemplados querem mais. Muito mais. A partir de agora, voltará a pressão por espaço nas agências reguladoras e nos escalões inferiores dos ministérios e empresas públicas e sociedades de economia mista, caso da Petrobras. E, depois do discurso de Dilma dizendo que aprendeu o valor da lealdade, da paciência, da urgência e da coalizão, aliados entederam que podem, finalmente, ter espaço nessas decisões.
Os peemedebistas, por exemplo, dizem que até agora “houve uma coligação e não uma coalizão”. Citam como exemplo o fato de não conseguirem ter os secretários executivos dos ministérios que ocupam. Um exemplo do controle de Dilma no segundo escalão está no Turismo. Apesar de o titular ser o peemedebista Gastão Vieira, da cota do ex-presidente José Sarney, o controle da estatal Embratur, com orçamento de R$ 80 milhões está com Flávio Dino (PCdoB-MA). Ontem, na plateia da posse dos novos ministros, havia insatisfação com o fato de a presidente querer indicar Nelson Hubner para a secretaria executiva do ministério da Previdência, no lugar de Carlos Eduardo Gabas, que deverá substituir Beto Albuquerque na secretaria executiva da Casa Civil. O próprio ministro da Previdência, Garibaldi Alves, costuma brincar que Gabas foi colocado na secretaria executiva para “vigiá-lo”.
Sem rodeios
Enquanto Garibaldi faz graça, colegas de partido não têm a mesma fleuma. A palavra de ordem é “participar” das políticas. Um dos alvos é recuperar o controle de duas diretorias da Petrobras: a Internacional, já chefiada por Jorge Luiz Zelada, e a de Abastecimento, uma vez comandada por Paulo Roberto da Costa.
Dilma reavaliou sua postura para conseguir garantir o apoio da base aliada até 2014. O PDT, com movimentos do deputado Paulo Pereira da Silva (SP), deu sinais claros de que, não havendo flexibilizações, poderia apoiar a candidatura de Eduardo Campos (PSB). Já no PMDB mineiro, a insatisfação vinha desde o final do ano passado, quando Leonardo Quintão desistiu da candidatura à prefeitura de Belo Horizonte para apoiar o derrotado Patrus Ananias (PT). Os primeiros rumores de reforma contemplavam a legenda apenas em São Paulo, para abrigar o ex-candidato à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita. O envolvimento do deputado em denúncias de corrupção abriu espaço para Dilma conter mineiros e evitar debandada para Aécio Neves (PSDB).
E, apesar das trocas, há ainda dois problemas. Um deles é o PSD, que, às vésperas de ser anunciado como o detentor da recém-criada Secretaria de Micro e Pequena Empresa, informou à Dilma que preferia não integrar a base aliada até 2014. O Planalto ainda estuda dar a secretaria ao partido de Gilberto Kassab. O outro imbróglio é com o PR, que não aceita o preferido de Dilma, o senador Blairo Maggi, para o Ministério dos Transportes. Dilma, agora, pretende oferecer a pasta ao senador Antônio Carlos Rodrigues (SP) que, apesar de ter apoiado o Serra em 2012, abrirá espaço no Senado para o secretário de organização do PT, Paulo Frateschi, suplente.
» Discurso e lágrimas
No discurso de despedida na manhã de ontem, a presidente Dilma Rousseff reservou palavras carinhosas para o ex-ministro da Agricultura Mendes Ribeiro, que luta contra um câncer. “Com o Mendes Ribeiro, a minha ligação, além de política, tem fortes bases afetivas. A sua colaboração comigo no governo só fez crescer o respeito que eu tenho por ele”, disse a presidente. Chamando-o de “Mendezinho”, ela fez referências diretas à doença e emocionou o ministro ao brincar que ele deveria focar na sua saúde e parar “de andar pra baixo e pra cima”. “Espero, também, que você cuide da sua recuperação, porque eu quero, mais uma vez, contar contigo. Agora você, Mendes, tem o direito, mas, sobretudo, tem o dever de pensar na saúde, porque nós todos precisamos de você”, disse, emocionada.