Título: Brasileiro influenciou na escolha do nome
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2013, Mundo, p. 19

Papa revela que optou por se chamar Francisco após pedido de dom Cláudio Hummes. "Não se esqueça dos pobres", solicitou o arcebispo emérito de São Paulo

Durante o discurso preparado para mais de 5 mil jornalistas que acompanharam o conclave que o escolheu como novo líder da Igreja Católica, ontem de manhã, o papa deixou os papéis de lado para justificar a escolha de seu nome, Francisco. A inspiração, confirmou o pontífice, é realmente uma lembrança ao santo de Assis, “homem dos pobres, da paz e do amor”. Mas a inspiração para a decisão, fez questão de detalhar, foi o arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes.

Bem-humorado, falando de improviso, o pontífice contou que participou do conclave ao lado do cardeal brasileiro. “Quando a coisa começou a ficar perigosa, ele me tranquilizou”, disse, sorrindo. No segundo dia de votação, na quarta-feira passada, ao alcançar os dois terços dos votos necessários para ser eleito, o argentino ganhou um abraço e um beijo do “muito amigo” dom Cláudio, ouvindo dele em seguida: “Não se esqueça dos pobres”. O pedido “entrou na cabeça” e o levou a optar por Francisco. O argentino revelou em seguida um desejo: “Como eu gostaria de uma igreja pobre e para os pobres”.

Em tom de muita descontração, o papa acrescentou que colegas chegaram a sugerir a alcunha de Adriano (o quarto a adotar esse nome na história da Igreja lançou a chamada Reforma Católica). Outros defenderam que ele passasse a se chamar Clemente XV, para “se vingar de Clemente XIV”, papa que suprimiu a Companhia de Jesus e, por isso, de pouco apreço aos jesuítas, ordem à qual pertence o pontífice.

Antes, enquanto ainda lia o texto escrito para a audiência com a imprensa, Francisco destacou a característica “essencialmente espiritual” da Igreja. E emendou que “em tudo o que aconteceu” (da renúncia de Bento XVI à escolha dele como sucessor), o protagonista foi o Espírito Santo. “Os eventos eclesiais não são mais complicados que os políticos e os econômicos”, afirmou o papa, aplaudido nove vezes ao longo dos 30 minutos do encontro, realizado na sala Paulo VI.

Como fiéis

Os jornalistas acompanharam o discurso de Francisco em silêncio e com a atenção de fiéis. “Vocês trabalharam muito, trabalharam mesmo”, reconheceu, na primeira vez em que saiu do script. O papa agradeceu a divulgação das notícias e, ao comentar o trabalho da imprensa, associou a missão dos repórteres à da Igreja: “Isto nos torna muito próximos: propagar a verdade, a bondade e a beleza”.

Ao fim da audiência, após abraços calorosos em funcionários da comunicação do Vaticano, Francisco fez jornalistas chorarem. “Quero dar minha bênção, respeitando a consciência de cada um, mas sabendo que cada um de vocês é filho de Deus”, concluiu, em espanhol, dizendo saber que havia não católicos entre os presentes. “Incrível, ele já nos conquistou”, comentou a radialista mexicana Laura Silva Perez, 44 anos, uma das que se emocionou.

A fila dos interessados em participar do encontro começou a se formar mais de duas horas antes do início. Alguns jornalistas levaram familiares. As amigas paulistas que vivem em Roma Luciana Pricoli e Edilene Barbosa, ambas de 33 anos, conheciam uma repórter credenciada e conseguiram lugar no grande auditório. “Muita sorte!”, vibrou Luciana, que puxou os gritos de “Viva o papa!”. “Ele é muito carinhoso e acessível”, completou Edilene, também feliz por estar ali.

“Quando a coisa começou a ficar perigosa, ele (dom cláudio hummes) me tranquilizou”

Papa Francisco, referindo-se ao apoio recebido do brasileiro quando sua eleição parecia próxima