Título: Câmara e Senado escolhem líderes
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2013, Mundo, p. 22

Coalizão de centro-esquerda consegue eleger candidatos para comandar parlamento

Não foi tão rápido como no Vaticano, mas a fumaça branca finalmente subiu no parlamento italiano. Depois de terem falhado as primeiras tentativas de escolher os líderes da Câmara e do Senado no primeiro dia da nova legislatura, na sexta-feira, a coalizão de centro-esquerda conseguiu ontem eleger seus nomes. Desde as eleições gerais, em 24 e 25 de fevereiro, um papa já renunciou, a Igreja Católica já escolheu seu sucessor, mas a Itália continua mergulhada em uma crise de governabilidade, uma vez que os partidos não conseguem chegar a um acordo para formar um governo. O presidente da República, Giorgio Napolitano, anunciou ontem que pretende iniciar as consultas com os líderes partidários na quarta-feira. Enquanto isso, o primeiro-ministro, Mário Monti, que teve péssimo desempenho nas urnas, permanece no cargo.

Primeiro, a Câmara dos Deputados (Baixa) escolheu sua presidente, a jornalista Laura Boldrini, da sigla Esquerda Ecologia e Liberdade (SEL). O partido integra a coligação de centro-esquerda, liderado pelo Partido Democrático (PD) e vencedora nas urnas. A vitória de Boldrini foi menos complicada, uma vez que a aliança detém a maioria na Casa. Ela recebeu 327 votos, 17 a mais do que o exigido. No Senado, contudo, foram necessárias quatro votações até que o ex-promotor centro-esquerdista Piero Grasso conseguisse uma vitória. Pelas regras da Casa, depois de três impasses, na quarta consulta se permite um desempate entre os dois candidatos que tenham conseguido mais votos nos escrutínios anteriores. O duelo se firmou entre Grasso, conhecido por seu trabalho contra a máfia, e o candidato de centro-direita, Renato Schiffani, do mesmo partido do ex-premiê Silvio Berlusconi, Povo da Liberdade (PDL).

O impasse no Senado se deu, principalmente, porque os senadores do Movimento Cinco Estrelas (M5S) não fecharam consenso. O movimento deixou livre para seus parlamentares decidirem. Grasso conquistou 137 votos, 12 dos quais vindos do M5S (que tem 75 votos).

Embora tenha formado a maior bancada da Câmara, o bloco de centro-esquerda, liderado pelo PD, conseguiu apenas “maioria relativa” no Senado. Desde então, seu líder, Pier Luigi Bersani, que almeja se tornar primeiro-ministro, tenta conquistar o apoio do M5S, cujo presidente, o comediante Beppe Grillo, refuta qualquer acordo que não tenha o movimento no comando do governo. O M5S obteve um surpreendente desempenho nas eleições e acabou por se estabelecer como a terceira força na Itália. Bersani insiste na aproximação, ao mesmo tempo em que recusa uma aliança com o bloco de centro-direita, de Berlusconi. Segundo a mídia italiana, os centro-esquerdistas escolheram lançar Boldrini por ver nela um nome que poderia ser simpático aos olhos do M5S. Segundo o La Reppublica, por ser mulher, nova (51 anos) e por sua experiência profissional — ela foi porta-voz da Agência da ONU para Refugiados (Acnur) — seu perfil “é um elemento de ruptura que dificilmente pode ser ignorado por aqueles que pedem renovação”.