Título: Chuva volta a matar no Rio
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Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2013, Brasil, p. 7

Bastaram dois dias de chuva forte para que o fantasma de 2011 voltasse a assombrar os moradores da Região Serrana. Enxurradas e deslizamentos já deixaram 16 mortos

Dois anos depois da maior tragédia natural do país, que deixou mais de 900 mortos e 300 desaparecidos, a Região Serrana do Rio de Janeiro voltou a sofrer com as fortes chuvas que castigam todo o estado desde domingo. Apenas em Petrópolis, a 80 km do Rio, o saldo é de 16 mortos — entre eles três crianças — e cinco desaparecidos, além de 650 desabrigados.

Da Itália, a presidente Dilma Rousseff ligou para o governador Sérgio Cabral para oferecer apoio. Mas ela também cobrou “medidas drásticas” para a remoção de moradores das áreas de risco. Cabral recebeu ainda uma ligação da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, reforçando o compromisso de ajuda federal.

De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) do Rio de Janeiro, 12 rios transbordaram. Em Petrópolis, foram registrados 400mm de chuvas em apenas 24 horas, quase o dobro da média de março, de 270mm. A partir das 17h de domingo, sirenes de alerta máximo foram acionadas em nove localidades gravemente afetadas pelas cheias de rios ou com risco de desabamento de encostas. A Defesa Civil informou que as chuvas vão continuar a cair sobre a região, mas em menor volume, e que o tempo só deverá melhorar a partir de amanhã.

Dois agentes da Defesa Civil — Fernando Fernandes Lima e Paulo Roberto Filgueiras — que trabalhavam na remoção de pessoas que ainda não haviam deixado as áreas de risco morreram quando um muro desabou. Outro agente, que também estava no local, ficou ferido e foi encaminhado a um hospital da região.

“Fazemos um apelo para que todas as pessoas deixem as áreas de risco”, solicitou ontem o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, em entrevista coletiva. Cabral destinou R$ 3 milhões para auxílio às vítimas das chuvas em todo o estado. O prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, anunciou a contratação emergencial de 500 trabalhadores para ajudar na limpeza da cidade e destinou R$ 200 mil para a compra emergencial de materiais e mantimentos para os desalojados, que estão sendo encaminhados a 18 abrigos.

Assim como Cabral, Dilma lamentou que as pessoas não aceitem facilmente deixar seus lares, mesmo sabendo dos riscos que correm. “Eu acho que vão ter de ser tomadas medidas um pouco mais drásticas para que as pessoas não fiquem nas regiões que não podem ficar, porque aí não tem prevenção que dê conta. O homem não tem condição de impedir desastre, não tem”, disse ela, na Itália.

Ainda ontem, chegaram ao Rio de Janeiro o secretário nacional de Defesa Civil, Humberto Viana, e o diretor de Minimização de Desastres do Ministério da Integração Nacional, Armin Braun, acompanhados por uma comitiva de técnicos, engenheiros e geólogos. Eles vão se reunir com prefeitos para avaliar a situação das cidades atingidas e coordenar as ações do governo federal na região.

Nos distritos de Xerém e de Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, casas foram parcialmente submersas pela cheia dos rios Capivari e Saracuruna. Cerca de 30 pessoas estão desalojadas, mas não há registro de vítimas. O Inea percorreu áreas alagadas e deve elaborar, em parceria com a prefeitura de Duque de Caxias, um plano emergencial para a região. Em Magé, onde choveu 160mm em 24 horas, mais da metade de todo o volume esperado para o mês, um dique do Rio Roncador se rompeu, deixando 120 desalojados no Bairro de Vila Liberdade.

“Eu acho que vão ter de ser tomadas medidas um pouco mais drásticas para que as pessoas não fiquem nas regiões que não podem ficar, porque aí não tem prevenção que dê conta” Dilma Rousseff, presidente