Título: Discurso contra a alta rotatividade
Autor: Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 16/03/2013, Política, p. 4

A dança das cadeiras na Esplanada dos Ministérios anunciada ontem pela presidente Dilma Rousseff está longe de ser a opção ideal para dar seguimento ao jogo político de alianças no Congresso e para as próximas eleições — e mais distante ainda de resolver os problemas de gestão das pastas. Além disso, cientistas políticos ouvidos pelo Correio também criticam o pouco tempo que alguns ministros ficam à frente das pastas, como é o caso de Brizola Neto (PDT), no Trabalho, e Mendes Ribeiro (PMDB), na Agricultura. Os dois foram substituídos com menos de um ano e meio de trabalho. Eles têm mandato de deputado federal até 2014.

“Infelizmente, a última coisa que se pensa quando se faz uma reforma ministerial é a função do ministério em termos de serviços para a cidadania. A alta rotatividade é ruim porque as pessoas não têm tempo sequer de conhecer os procedimentos internos, as técnicas e a equipe”, afirma o professor de ética e filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano. Segundo ele, a permanência de um ministro deveria ser equivalente ao mandato de quatro anos da presidente da República. “As mudanças deveriam ocorrer apenas em casos de corrupção, morte ou doença. Caso contrário, o ideal é que ficasse durante a gestão do chefe do Executivo”, acredita.

Para o professor emérito de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, se os ministros que assumirem os novos cargos não mexerem no segundo e no terceiro escalões da hierarquia da pasta, os trabalhos continuam sem alterações significativas. “Mas, no caso do PDT, por exemplo, no Ministério do Trabalho, os lupistas (apoiadores do ex-ministro Carlos Lupi) devem voltar aos escalões mais baixos e desfazer todas as decisões tomadas sob a chefia do Brizola Neto. Nesse caso, é uma grande pena que a presidente Dilma tenha sucumbido às pressões do partido”, avalia.

A instabilidade provocada pelas rápidas mudanças impostas pelo Palácio do Planalto também é um dos problemas apontados pelo cientista político Ricardo Ismael, do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio. Segundo ele, a rotatividade de cargos, visando exclusivamente apoio político para a reeleição em 2014, pode resultar em mudanças de diretrizes importantes nas pastas. “Há aí um problema na continuidade das políticas públicas em troca da força política. Agora, em ministérios de áreas mais importantes, como Saúde e Educação, a presidente Dilma não deve fazer mudanças porque são segmentos que serão avaliados na campanha”, ressalta.

"As mudanças deveriam ocorrer apenas em casos de corrupção, morte ou doença" Roberto Romano, professor da Unicamp