Título: Campo minado para Obama
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2013, Mundo, p. 17

Presidente visita Israel e Palestina, sob cobranças de ambos os lados

Carregada de expectativas, começa hoje a primeira viagem do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a Israel, aos territórios palestinos e à Jordânia. De um lado, o governo israelense vê a visita como um gesto de reaproximação bilateral. Do outro, a Autoridade Palestina espera, sem muita ambição, que a presença de Obama dê o empurrão necessário à retomada do processo de paz. O presidente americano se reunirá com líderes de ambas as partes e com o rei Abdullah II. Além da questão israelo-palestina, deverá tratar de outros temas delicados do Oriente Médio, como Irã e Síria.

Além de representar o principal obstáculo às negociações, do ponto de vista palestino, a colonização judaica nos territórios palestinos, amparada por Israel, tem sido a discordância central entre o presidente americano e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu — já desde o primeiro mandato de Obama. Na véspera da partida do visitante, o jornal israelense Haaretz afirmou que o governo pretende legalizar construções palestinas consideradas “ilegais” na chamada Área C da Cisjordânia. Ela está sob total controle administrativo e de segurança de Israel e é a maior das três porções nas quais o território foi dividido, segundo os termos dos acordos de paz de Oslo (1993).

O governo Obama tem tentado baixar as expectativas quanto à viagem. Segundo o consultor e especialista em Oriente Médio do Conselho de Relações Exteriores (CFR), Bernard Gwertzman, o presidente marcou a visita a Israel coincidindo com o início de seu segundo mandato e com a recomposição do gabinete de Netayahu, antes que se crie uma situação na qual ele precisasse “mostrar resultados”. “Quanto mais cedo ele for, mais fácil será para recalibrar as relações, que é o objetivo”, afirmou Gwertzman, em entrevista publicada pelo site do CFR.

A atuação limitada do presidente na questão entre Israel e Palestina, nos primeiros quatro anos de mandato, foi explorada pelo adversário republicano, Mitt Romney, na campanha eleitoral de 2012. Como lembrou ao Correio o cientista político David Samuels, da Universidade de Minnesota, Romney usou o fato de Obama “não ter feito muita coisa, nem para Israel, nem para os palestinos”. Um dos momentos de maior tensão com Israel, principal aliado dos EUA no Oriente Médio, foi quando o presidente, em maio de 2011, defendeu a criação do Estado palestino nas fronteiras de 1967 — compreendendo Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental. Contestado por Netanyahu na Casa Branca, o presidente retratou-se discursando perante uma organização judaico-americana.

Estado palestino

No ano passado, na Assembleia Geral das Nações Unidas, os EUA não apoiaram o pedido do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, de reconhecimento como Estado observador. Obama terá encontros com Abbas e com o premiê Salam Fayyad, mas Gwertzman não vê grandes ambições dos palestinos. Ontem, cerca de 200 pessoas protestaram contra Obama em Ramallah, acusando-o de favorecer Israel.

A agenda do presidente americano na região terá também o controverso programa nuclear do Irã. Falando a uma emissora israelense, às vésperas da viagem, Obama reafirmou que espera solucionar a crise pela via diplomática, mas reiterou que “todas as opções” continuam sobre a mesa.