Título: Falta foco ao governo, diz Henrique Meirelles
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2013, Economia, p. 10
Ex-presidente do Banco Central nas duas gestões de Lula acredita que o país tem condições de crescer, mas para isso precisa diminuir o custo Brasil, um dos mais altos do mundo
São Paulo — O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que, durante os oito anos dos dois mandatos do ex-presidente Lula, foi o responsável pela aplicação da política monetária para corrigir descaminhos da economia, disse ontem que o governo precisa de mais foco e empenho para eliminar os gargalos que têm segurado o crescimento do país. Segundo Meirelles, o Brasil é um dos países com maior dificuldade em encontrar mão de obra qualificada. Pelo menos 71% da empresas passam por esse problema. Nos Estados Unidos, o número também é elevado, mas inferior à experiência brasileira; lá, cerca de 49% das companhias passam por essa situação.
A necessidade de redução dos custos de investimentos, considerados um dos mais altos do mundo, também foi abordada por Meirelles, que falou ao Correio durante o SAP Fórum Brasil, um encontro em São Paulo que debate tecnologia. Ele explicou que um investimento que custa US$ 100 nos Estados Unidos, por exemplo, exige um desembolso três vezes maior no Brasil. No Chile, esse gasto seria de US$ 170. “O Brasil ainda é visto como um país de grandes oportunidades para empresas estrangeiras apesar do mal humor recente”, afirmou Meirelles. “O crescimento tem de vir através do capital privado”, ponderou.
Inflação Sobre o país recai ainda o peso da inflação, o que, na prática, é custo para o setor produtivo e para investidores. Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 12 meses, está em 6,31% e deve estourar o teto da meta ainda em março, a carestia na média mundial é de 2%. Quando se olham os 40 principais parceiros comerciais brasileiros, esse grupo apresenta uma inflação média de 2,8%. Apesar dessa disparidade — e de o Banco Central aceitar um pouco mais de inflação em troca de crescimento —, Meirelles não acha que o governo perdeu a memória inflacionária. “Acredito que o BC não perdeu a memória, a inflação está sob controle”, avaliou. “O Brasil acertou a questão fiscal, a inflação ficou na meta por anos e hoje está no limite de tolerância.”
Meirelles afirmou ainda que o Produto Interno Bruto (PIB) potencial, que é quanto o país tem possibilidade de crescer em um ano, caiu entre 2010 e 2013. Na avaliação dele, esse número passou de 5% para algo ao redor de 3,5%. Ainda segundo ele, o Brasil precisa tomar cuidado com o aumento dos salários enquanto a produtividade segue em queda, situação que amplia as pressões inflacionárias. Para o ex-BC, existem três riscos que podem levar o país ao desaquecimento: aumento da participação do consumo do governo no PIB, o baixo nível de escolaridade do brasileiro e a pequena participação da manufatura e de produtos de tecnologia nas exportações.
Apesar dos problemas e dos riscos, Meirelles destacou que “O Brasil fez um programa de ajuste no passado muito mais sério do que faz hoje a Troika na Europa”. E completou: “Por isso temos condições de resolver nossos desafios, mas é preciso foco governamental”, afirmou.
O repórter viajou a convite da SAP Brasil