Valor econômico, v. 21, n. 5129, 17/11/2020. Curtas, p. B4

 

Vacina da Moderna contra covid-19 mostra eficácia de 94,5%

Donato Paolo Mancini

Sarah Neville

Hannah Kuchler

17/11/2020

 

 

É o segundo conjunto positivo de resultados nos últimos oito dias para uma possível forma de imunização

A empresa americana de biotecnologia Moderna divulgou ontem que sua vacina contra a covid-19 teve eficácia de 94,5% nos ensaios clínicos, o segundo conjunto positivo de resultados nos últimos oito dias para uma possível forma de imunização.

Na semana passada, a gigante americana Pfizer e a alemã BioNTech também informaram que sua vacina, baseada na mesma tecnologia de RNA mensageiro, mostrou eficácia superior a 90%.

Os resultados da Moderna, na esteira desse primeiro anúncio, reforçarão ainda mais o otimismo de que o mundo poderá subir de patamar na gestão da pandemia.

O executivo-chefe da Moderna, Stéphane Bancel, afirmou que o avanço é “essencial”. “Estas análises intermediárias da fase 3 de nosso estudo nos deram a primeira validação clínica de que nossa vacina pode evitar a doença covid-19, incluindo a doença grave”, disse Bancel.

Dos 30 mil participantes nos ensaios clínicos, 95 foram identificados com casos confirmados de covid-19, segundo a empresa. Entre os infectados, apenas cinco pessoas haviam recebido a vacina, de duas doses, conhecida como mRNA-1273, enquanto 90 haviam recebido um placebo.

A Moderna pretende apresentar a vacina para aprovação na Agência de Remédios e Alimentos (FDA, na sigla em inglês) “nas próximas semanas”, o que aumenta as chances de que pelo menos duas vacinas ganhem aprovação emergencial antes do fim do ano.

Os 95 casos de covid-19 nos testes incluíram idosos e 20 participantes identificados como sendo de comunidades diversas, segundo informou a Moderna. As análises intermediárias, destacou a empresa, “sugerem um perfil de segurança e eficácia amplamente consistente em todos os subgrupos avaliados”.

A Moderna estima que sua vacina pode permanecer estável por 30 dias quando refrigerada entre 2°C e 8°C, um tempo bem maior do que a da BioNTech-Pfizer, que pode sobreviver em uma geladeira normal por apenas até cinco dias e que para manter-se por mais tempo precisa ser armazenada a 75°C negativos.

“De fato, é uma notícia muito boa ver outra vacina chegando com resultados de eficácia similares como os relatados na semana passada pela Pfizer,” afirmou Trudie Lang, do Departamento de Medicina Nuffield, da Universidade de Oxford.

A professora Trudie acrescentou que os primeiros resultados indicam que grupos de diferentes faixas etárias e comunidades estiveram representados nos grupos protegidos. “Isso é realmente encorajador e demonstra ainda mais que a vacina contra a covid-19 é uma probabilidade real e que ter mais de um fornecedor deverá ajudar a garantir uma disponibilidade global melhor e mais equitativa.”

Peter Openshaw, professor de medicina experimental no Imperial College London, destacou que os testes incluíram muitas pessoas “idosas ou de alto risco”. “Isso nos dá confiança de que os resultados são relevantes nas pessoas com mais risco diante da covid-19 e que mais precisam das vacinas”, acrescentou.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) informou separadamente também ontem que iniciou uma revisão acelerada da vacina. O órgão britânico equivalente, Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos para a Saúde (MHRA), também realiza uma revisão acelerada. Estados Unidos, Canadá e Japão já fizeram pré-encomendas, enquanto a União Europeia negocia um acordo de fornecimento.