O globo, n. 31846, 15/10/2020. País, p. 7

 

Disputa por verbas partidárias acende alerta em campanhas

15/10/2020

 

 

Com 1% em pesquisas, candidatos do PSL em São Paulo e Rio ficam em segundo plano nos repasses. Ao priorizar Tatto, PT destina menos recursos ao Nordeste

 Cerca de duas semanas após as campanhas eleitorais, atrasos e disputas envolvendo transferências partidárias causaram reclamações nas capitais e afetaram candidatos a prefeitos de diversas siglas. Segundo o sistema de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (Tse), atualizado diariamente, o PSL havia alocado até ontem à noite menos recursos para a candidatura de Joice Hasselmann em São Paulo Do que para capitais como Curitiba, Boa Vista e Palmas, onde o partido também tem sua própria candidatura.

Joice, que tem 1% das intenções de voto segundo o Datafolha, pediu repasse partidário de R $ 5 milhões, segundo integrantes do PSL. O valor é cinco vezes maior do que o recebido até agora.

No Rio, a candidatura de Luiz Lima, que também aparece com 1% das intenções de voto, ainda não consta como destinatária das transferências do PSL. O partido, que tem à disposição R $ 199,4 milhões do fundo eleitoral, repassou R $ 400 mil à diretoria carioca. Segundo diretores do PSL, já houve autorização para repassar R $ 2,6 milhões para Lima, mas o valor ainda não entrou no sistema.

Assim como Joice, que enfrenta resistências no próprio PSL por ter se afastado do grupo mais ligado ao presidente Jair Bolsonaro em 2019, Lima tenta construir apoio interno para contestar os votos do bolsonarismo com o atual prefeito Marcelo Crivella (republicano). Crivella, que recebeu discretos sinais de apoio de Bolsonaro, registrou um repasse de R $ 557 mil de seu partido até o momento, valor semelhante ao destinado pelos republicanos à campanha de Celso Russomanno em São Paulo. A diretoria paulista de republicanos recebeu R $ 4 milhões, cerca de três vezes mais do que o destinado ao Rio. Na semana passada, Russomanno ganhou um aceno explícito de apoio de Bolsonaro enquanto posava para fotos em um abraço do presidente.

Aliados do prefeito pediram "benevolência" ao Presidente Nacional dos Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), para distribuir o Fundo Eleitoral da lenda, que soma R $ 100,6 milhões. A articulação direta com Pereira é uma alternativa ao presidente da diretoria fluminense, Luís Carlos Gomes, visto internamente como um líder com pouca força partidária.

- Na verdade, é mais complicado do que a última eleição. O partido fez uma divisão de recursos proporcional à população. Além disso, em 2016 eram 11 deputados federais (dos republicanos), agora são 32 e o Rio tem apenas dois, enquanto São Paulo tem cinco. Isso também entrou no cálculo - declarou Crivella.

Atrasos nos repasses no Rio e em São Paulo preocupam os candidatos, que temem ver uma campanha “fria” sem os recursos. Nos gastos declarados por Crivella, mais de 25% são reduzidos a honorários advocatícios do gabinete de Admar Gonzaga, ex-ministro do TSE que atua na defesa do prefeito.

NORDESTE FICA PARA TRAS

No caso de Joice, que ainda não declarou despesas ao TSE, o incômodo foi agravado pelo repasse de R $ 2 milhões do PSL para a candidatura a vereador de Vitor Abou Anni, filho do deputado federal Abou Anni (PSL -SP). Segundo a parte, houve um “erro” no repasse, superior ao pretendido para Joice, e será devolvido R $ 1,7 milhão.

No PT, partido que detém a maior fatia do fundo eleitoral, com R $ 201,2 milhões, a cúpula partidária priorizou os repasses à campanha de Jilmar Tatto à cidade de São Paulo, por entender que a capital paulista é estratégica terreno para o xadrez eleitoral de 2022.

Tatto, porém, figura com 1% das intenções de voto, segundo o Datafolha, o que levou os petitistas a defenderem a desistência da candidatura a Guilherme Boulos (PSOL), que aparece com 12%. O principal obstáculo à manobra, segundo um interlocutor da cúpula do partido, é convencer o próprio Tatto a abdicar de uma campanha que, tratada com caráter prioritário, já recebeu R $ 4,4 milhões. O valor supera o pretendido para candidaturas do PT melhor posicionadas nas pesquisas, inclusive nas capitais nordestinas, reduto eleitoral do partido nos últimos anos.

Em Recife, por exemplo, a candidatura de Marília Arraes, segunda colocada nas pesquisas, havia recebido R $ 995 mil até ontem. Em Fortaleza, Luizianne Lins, que aparece tecnicamente empatada na liderança da disputa pela Câmara de Vereadores segundo o Ibope, recebeu R $ 960 mil do PT.

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SP: adversários criticam fala de Russomanno sobre cracolândia

Gustavo Schmitt

Silvia Amorim

Diaiti'rius Danitas 

15/10/2020

 

 

Candidato disse que moradores de rua são mais resistentes a Covid-19

 Um dia depois de afirmar que moradores de rua e usuários de drogas Cracolândia  ficariam mais autoconscientes para a Covid-19 “porque eles vivem o tempo todo na rua, não têm como tomar banho”, afirma o candidato a paulista Celso Russo manno (Redise foi mal interpretada. Outros candidatos criticaram o posicionamento do oponente, classificando a declaração como "infeliz" ou que Russomanno não trata a população de rua como ser humano. Em junho, 28 moradores de rua morreram vítimas do novo coronavírus.

- Eu estava fazendo uma consideração que a ciência tem que explicar porque eles são imunes. Talvez porque tenham mais resistência. É isso aí. Eles têm mais resistência do que agente. O que eu disse e repito é que se gabou que os sem-teto e o Cracolandia  seriam dizimados pela Covid-19. E não foi isso que aconteceu - afirmou Russomanno ontem.

O atual prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), criticou o adversário:

- Infelizmente outro candidato está tratando a população de rua como se fosse uma classe diferente de ser humano - disse Covas.

Já o candidato do PSB, Márcio Francia, lembrou a vulnerabilidade dos usuários que moram na Cracolândia, no centro da cidade.

- A declaração do candidato foi lamentável. As pessoas mais vulneráveis ​​à Covid são exatamente aquelas que têm menos condições e recursos de acesso à saúde e higiene —France disse ao mundo.

A afirmação também foi criticada por Guilherme Boulos, candidato do PSOL:

- Fiquei enojado ao ouvir essa afirmação. A pior declaração desta campanha eleitoral até agora. Eu entendi isso como uma piada, uma zombaria do sofrimento das pessoas. Isso não pode. É alguém que não tem humanidade. Eu não aceito isso.

Antes de reiterar suas declarações pela manhã, a campanha de Russomanno enviou uma nota de esclarecimento:

O candidato patriota Arthur do Val e Joice Hasselmann do PSL chamaram Russomanno de "despreparado".

- Toda vez que ele abre a boca, ele fala bobagem. Isso mostra uma pessoa que vive em uma bolha, que não entende a realidade - declarou Val.

- Russomanno só mostra o que é. Uma pessoa despreparada, sem qualquer sensibilidade - disse Joice.