O globo, n. 31846, 15/10/2020. Economia, p. 22
FMI: dívida pública brasileira vai passar de 100% do PIB este ano
15/10/2020
Globalmente, endividamento bruto continuará em alta até 2025, mas organismo defende manter estimulos fiscais
O aumento dos gastos com o combate à pandemia fará com que a dívida pública brasileira pule de 89,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 para 101,4% neste ano, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgadas ontem, no relatório Monitor fiscal - políticas de recuperação. Na terça-feira, o Fundo informou que espera uma recessão menos severa em 2020, tanto no Brasil quanto no mundo.
A dívida brasileira manterá trajetória elevada até 2025, quando atingirá 104,4% do PIB. Nesse período, o estado das contas públicas do Brasil será o mais frágil entre as principais economias emergentes, como China, Índia, México, Rússia e África do Sul.
Os números pioraram a percepção do FMI sobre a trajetória da dívida pública brasileira. Em abril, a relação dívida / PIB do país era estimada em 98,2% em 2020, caindo nos anos seguintes.
Apenas a África do Sul e a Índia ultrapassarão a marca de 80% do PIB nos próximos anos, mas ainda longe da marca de 100% do PIB.
- Altos níveis de dívida pública não são o risco mais imediato. A prioridade é evitar a retirada prematura dos estímulos fiscais. Isso deve ser mantido pelo menos durante 2021 para sustentar a recuperação. Saúde e educação devem ser prioridades para todos - afirmou o diretor de Assuntos Fiscais do FMI, Vitor Gaspar.
TAXAR OS MAIS RICOS
Entre as 40 nações emergentes e de renda média monitoradas pelo FMI, o Brasil terá o segundo maior nível de dívida este ano, atrás apenas de Angola, com 120,3% do PIB. A Venezuela ocupava a segunda posição até o ano passado, mas o fundo não apresenta mais estimativas para o país.
Em 2022, o Brasil terá a maior dívida / PIB, 103,5%, contra 93,8% de Angola.
Entre as economias avançadas, os Estados Unidos e o Japão apresentam a situação mais delicada: 131,2% e 266,2% do PIB neste ano, respectivamente. Mas são países considerados capazes de saldar sua dívida e não enfrentam dificuldades para obter financiamento.
No geral, a dívida pública aumentará de 83% para 98,7% do PIB em 2020, estabilizando em 100% em 2025.
Ainda assim, o fundo defende que, apesar da queda na receita, os países continuem gastando para combater os efeitos da pandemia. “É necessário mais apoio para proteger aqueles que não conseguem ganhar a vida nas atuais circunstâncias e para promover uma forte recuperação”.
Na terça-feira, o economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, disse que os governos deveriam considerar aumentar os impostos "nas faixas de renda mais altas, ganhos de capital e fortunas".