Título: O trunfo de Dilma de olho em 2014
Autor: Colares, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2013, Política, p. 2

Em meio à campanha antecipada com a oposição, gestão da presidente é bem avaliada por quase dois terços da população

Nem o fraco desempenho da economia brasileira no ano passado abalou a avaliação do eleitorado em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff. Divulgada ontem, a primeira pesquisa CNI/Ibope de 2013 mostra que 63% da população avaliam o governo como bom ou ótimo, melhor resultado desde o início da gestão. O índice é apenas 1% maior que o medido no último levantamento, feito em dezembro de 2012, e está dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais. Mas quando avaliadas as oito últimas pesquisas encomendadas pela Confederação Nacional da Indústria, observa-se que a aprovação do governo e da estratégia de comando, assim como o índice de confiança na presidente, vem crescendo de forma gradual e constante. A avaliação positiva foi maior no Nordeste, região que ajudou a eleger Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, hoje na mira do governador de Pernambuco e provável postulante ao Planalto em 2014, Eduardo Campos (PSB). Em meio à campanha antecipada de governo e oposição, o levantamento da CNI/Ibope é um trunfo político para a candidata do PT.

"Se esse cenário se mantiver até as eleições de 2014, Dilma é favorita. Com o "pibinho" e com o crescimento do Brasil na dimensão registrada no ano passado, a aprovação de 63% é um fato extraordinário, mesmo considerando-se que não houve aumento em relação à pesquisa anterior, devido à margem de erro", avaliou o cientista político Carlos Mello, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) de São Paulo. Com a deflagração antecipada do debate eleitoral, a oposição vem batendo sistematicamente na economia, ponto sensível do governo Dilma. Mas foi justamente esse quesito um dos principais responsáveis pela avaliação positiva da gestão. "Para o eleitor individual, a economia ainda vai bem", disse o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, citando como exemplo a manutenção do crescimento na geração de empregos, ainda que a taxas mais baixas (veja arte). "Se ela conseguir manter a economia positiva a nível individual, chegará mais forte em 2014. Se isso começar a despencar, ela também vai despencar", avaliou.

Gerente executivo de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca concorda que a questão econômica foi fundamental para manter a avaliação da presidente Dilma em patamares elevados. "O país continua com uma das mais baixas taxas de desemprego da história, a renda real continua subindo e a inflação ainda está afetando pouco a renda da população, o que faz com que o brasileiro continue satisfeito com a vida que vem levando", afirmou. Ele elencou, ainda, outros dois fatores para explicar a avaliação positiva dos eleitores: o investimento em programas sociais e a própria personalidade da presidente. "Ela é vista como uma pessoa firme, boa administradora, que gera confiança, o que contribui para uma avaliação positiva e crescente que o governo vem tendo desde o começo."

Nordeste Os índices positivos aumentaram, principalmente, no Nordeste. Na região, o percentual de entrevistados que considera o governo bom ou ótimo passou de 68% para 72%. A aprovação quanto à maneira de governar pulou de 80% para 85% de um trimestre para o outro. O índice que mais aumentou na região foi o de otimismo em relação aos próximos meses — subiu de 67% para 74%. O pior resultado foi medido nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde o percentual de aprovação da forma de governar da presidente caiu de 82% para 77%. Os que mais confiam em Dilma são os nordestinos (82%), seguidos pelos moradores do Sudeste (72%) e das regiões Norte e Centro-Oeste (71%).

Para o cientista político Carlos Mello, não é Dilma quem avança no território do governador pernambucano, mas Eduardo Campos que tenta conquistar votos na região, além do Sul e do Sudeste. "O crescimento da aprovação no Nordeste é coerente com o que vem ocorrendo na região. O governador de Pernambuco tem se mostrado para o empresariado do Brasil por causa dos índices de desenvolvimento do estado. Há mérito do governador, sim, mas tem muito dinheiro da União, em investimentos em infraestrutura e programas sociais. Quem capitaliza com isso é o governo federal. Eduardo Campos não é o vice-rei do Nordeste", afirmou.

Apesar de tecnicamente empatada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na avaliação dos eleitores, o número de pessoas que acham o governo Dilma melhor que o do antecessor ultrapassou, pela primeira vez, o de entrevistados que defendem que a gestão da presidente é pior. O desempenho de Dilma no início do terceiro ano de governo empatou tecnicamente com a avaliação feita no mesmo período do segundo governo Lula e ultrapassou o primeiro mandato do petista e as duas gestões de Fernando Henrique Cardoso.

As entrevistas foram feitas com 2.002 eleitores de 16 anos ou mais, em 143 cidades, entre 8 e 11 de março. Na noite do primeiro dia de pesquisa em campo, a presidente Dilma Rousseff foi à tevê anunciar a isenção de tributos federais para os produtos que fazem parte da cesta básica. No fim de janeiro, a presidente havia anunciado a redução da tarifa de energia em rede nacional. Após o episódio, a oposição a acusou de usar o espaço para fazer campanha. O gerente executivo de Pesquisas da CNI afirmou que não é possível mensurar o quanto esses dois pronunciamentos contribuíram para aumentar a aprovação da presidente, mas ponderou que os resultados positivos são percebidos desde o início do governo.

Possível candidato a presidente da República, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) minimizou os resultados da pesquisa da CNI. "Eles ainda são decorrentes de medidas tomadas pelo governo que são de grande alcance e apelo popular, junto à capacidade que esse governo tem de fazer propaganda para ser utilizada no debate eleitoral. O que as pessoas estão confirmando é que existe uma sensação de bem-estar que começou conosco, do PSDB, quando controlamos a inflação. Essa inflação, inclusive, está ameaçando voltar, colocando em risco as conquistas dos trabalhadores", disse. Colaborou Paulo de Tarso Lyra

AMOSTRAGEM 75% Total dos entrevistados que afirmaram confiar na presidente Dilma Rousseff, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem

63% Quantidade de entrevistados que consideram o governo Dilma ótimo ou bom, o maior índice desde o início do mandato

61% Percentual dos entrevistados que consideram a gestão de Dilma igual a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Áreas mais bem avaliadas na última pesquisa Combate à fome e à pobreza 64% Meio ambiente 57% Combate ao desemprego 57%

Áreas com índice alto de desaprovação Saúde 67% Segurança pública 66% Impostos 60%