Título: Famílias destruídas pela chuva
Autor: Medeiros, Étore
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2013, Brasil, p. 11

Os corpos de quatro crianças serão enterrados hoje, em Petrópolis. Mortos chegam a 28

No início da manhã de ontem, foi confirmada a 28ª morte relacionada às chuvas que caem em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, desde domingo. Drucilaine Alves Luminato, de 31 anos, morava no bairro Alto Independência com o marido e os filhos João Vitor e Rodrigo Vargas, de 2 e 4 anos. A casa da família foi atingida por um deslizamento de terra na noite de domingo. Os corpos das crianças só foram encontrados na terça-feira. Drucilaine estava internada no centro de terapia intensiva do Hospital Santa Teresa (HST), em Petrópolis, mas não resistiu. O marido dela é uma das 14 pessoas resgatadas com vida que ainda permanecem internadas em hospitais da região. Entre elas, uma criança de 6 anos e dois adolescentes.

Em uma comunidade do bairro Quitandinha, a força da enxurrada vitimou outra família inteira, que morava na beira de um rio. Os corpos dos irmãos Letícia e Nicolás Malter Fernandes, de 4 e 8 anos, serão enterrados hoje, às 10h, junto com os de João Vitor e Rodrigo Vargas. Os pais de Letícia e Nicolás, Pedro Fernandes e Cristina Malter, estão desaparecidos. Além deles, dois moradores estão sendo procurados desde domingo.

“A gente não vai parar tão cedo, enquanto não vasculhar tudo lá”, promete o tenente-coronel Fidelino, do Corpo de Bombeiros. Ele participa das atividades de gestão e supervisão das buscas, mesma atividade que exerceu na tragédia de 2011, quando cerca de 900 pessoas morreram no que é considerado o maior desastre natural do país. “Estamos buscando nas manilhas e galerias, onde o último corpo foi encontrado (na terça-feira)”, explicou.

Fidelino informou que as buscas por sobreviventes chegaram a se espalhar por 38 localidades, mas que, agora, o foco dos trabalhos está concentrado no Bingen, bairro às margens da BR-040 (Rodovia Rio-Juiz de Fora), vizinho ao Quitandinha, o mais severamente atingido pelas chuvas. “Estamos com 80 homens no local, divididos em três equipes, além de uma retroescavadeira e cães farejadores”, enumerou.

Saques e limpeza Ontem, começaram a aparecer os primeiros resultados da atuação da força-tarefa de 500 homens e 100 máquinas e caminhões usados na limpeza da cidade. Mais de 80% das ruas foram desobstruídas e as linhas de ônibus voltaram a circular quase normalmente. Enquanto a cidade tenta se reerguer, moradores denunciam que casas estão sendo saqueadas em plena luz do dia. A Polícia Militar garantiu que irá reforçar o patrulhamento na cidade.

O Ministério Público do Rio de Janeiro vai ajuizar hoje uma ação para exigir que a prefeitura e o governo do estado elaborem, em 30 dias, projetos para evitar o transbordamento dos rios Quitandinha e Piabanha, além de obras de contenção de encostas e estratégias de remoção das famílias que ainda moram nas áreas de risco. O MP também vai exigir que o poder público indenize as vítimas por perdas materiais e dano moral coletivo. O governo do estado se comprometeu, em 2011, a construir 5 mil casas em Petrópolis para alojar cerca de 16 mil pessoas que moram em áreas de risco, mas, até o momento, nenhum imóvel foi entregue.

Grande Vitória: 700 desabrigados A Defesa Civil do Espírito Santo mantém o estado de alerta para nove municípios da região metropolitana de Vitória. Cerca de 700 pessoas tiveram de sair de casa, ontem, por causa da tempestade que inundou bairros inteiros e, praticamente, impediu o tráfego entre as cidades. A situação só começou a voltar ao normal na tarde de ontem. Em Vila Velha, 4 mil casas sofreram danos por causa da enchente. O terminal de ônibus da cidade não pode ser reaberto. Em Cariacica, as atenções estão voltadas para os rios Marinho e Formate, além do Canal de Itanguá, que podem transbordar novamente. Os dois municípios decretaram ontem estado de emergência.