Título: Confiança em baixa
Autor: Hessel, Rosana; Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2013, Economia, p. 12

A força do consumo das famílias ainda não se traduziu em otimismo na indústria. Incrédulos com a retomada da economia, empresários do setor ainda não embarcaram no discurso do governo de que 2013 será o último de três anos de baixos resultados do Produto Interno Bruto (PIB). Uma amostra desse desânimo ficou evidente com a divulgação do Índice de Confiança da Indústria (ICI), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que registrou, em março, queda de 2,3% ante fevereiro.

“Quando a gente olha para a produção, ela já sinaliza rodar próximo ao patamar mais alto, então seria natural que houvesse uma retomada”, disse o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos. “Com esse baixo resultado, fica difícil dizer que a melhora esteja de fato acontecendo”, completou.

Em março, dois dos três itens pesquisados no ICI, o de Situação Atual e o de Expectativas, mostraram queda de 1,5% e de 3,1%, respectivamente. Já o Nível de Utilização da Capacidade Instalada manteve-se em 84,1%. Para o coordenador das sondagens conjunturais da FGV, Aloisio Campelo, os dados sinalizam perda de confiança do setor. “O ânimo vinha melhorando nos últimos meses, mas, aparentemente, as indústrias ainda não consideram que o consumo esteja forte a ponto de aumentar a produção”, disse.

Para Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting, a piora na expectativa sugere que o setor está mais preocupado em conseguir benesses fiscais do que em aumentar investimentos. “Hoje, a agenda da indústria se concentra em entrar na pauta de desonerações do governo ou pedir ajuda contra importados, tornando o Brasil cada vez mais protecionista”, disparou. Em dezembro passado, reportagem do Correio mostrou que parte dos setores beneficiados por redução de impostos aumentou o faturamento sem elevar a produção, embolsando lucros.