Título: País gera menos vagas
Autor: D'Angelo, Ana; Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2013, Economia, p. 14

Número de postos criados foi 18% menor que no ano passado. Essa é a terceira queda consecutiva

Pelo terceiro mês consecutivo, o país criou menos vagas de trabalho formais na comparação com o mesmo período do ano passado, o que comprova o ritmo lento da atividade econômica. Em fevereiro, foram gerados apenas 123.446 postos, 18% menos que os 150.600 registrados no mesmo mês de 2012. O número veio acima do esperado pelos analistas de mercado, que previam o surgimento de apenas 95 mil oportunidades, mas foi o pior resultado para o segundo mês do ano desde 2009, quando surgiram só 9.179 novas chances de serviço com carteira assinada.

Os dados divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) fazem parte do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A mesma retração já havia acontecido em dezembro e em janeiro últimos, quando a criação de novas vagas chegou a cair 18% e 76% em relação ao mesmo mês de 2011 e de 2012, respectivamente. Mais uma vez foi o setor de serviços que garantiu a maior quantidade de postos gerados: 82.0161.

Recém-empossado, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, minimizou o desempenho ruim, alegando estar “mais próximo da média”. Por meio de nota sobre o Caged, ele avaliou que “essa expansão pode indicar uma reação do mercado de trabalho, acenando para um cenário positivo no ano”. Dias se refere ao fato de que a queda foi mais branda que no mês anterior. “Mas ainda é cedo para fazermos especulações”, disse. O saldo de 123.446 novos registros em carteira é o resultado entre as 1.777.411 contratações e os 1.650.965 desligamentos ocorridos em fevereiro.

A indústria de transformação gerou 33.466 vagas e a construção civil, 15.636. Já o comércio fechou 10.414 postos de trabalho e o setor agrícola, 9.776. Entre as oportunidades de ocupação geradas em fevereiro, a maior parte está na região Sudeste — 66.177. No Nordeste, no entanto, houve queda, onde foram fechados 15.881 postos. Os dados do Caged divulgados ontem consideram apenas as admissões e as dispensas declaradas pelos empregadores dentro do prazo legal, e ainda serão computados os daqueles que as entregam com atraso.

Desaceleração Para o economista José Márcio Camargo, a desaceleração na geração de trabalho apontada nos dados do MTE já vem acontecendo há mais de um ano. Ele ressaltou o fato de em fevereiro ter sido menos intensa do que o esperado. “É preocupante, mas é uma situação que já vem há meses”, afirmou. Segundo Camargo, a criação de vagas formais está próxima dos níveis verificados em 2000 e 2001. “Ainda não há sinais confirmados de que a atividade vai se recuperar mesmo”, disse.

À procura de emprego há quatro meses, o estudante Thiago Jefferson Sousa Silva, 20 anos, acha que está mais difícil conseguir um serviço com carteira assinada. “Já entreguei meu currículo em vários lugares, mas até agora não me ligaram. Está difícil”, contou ele, que cursa o terceiro ano do ensino médio e está atrás de vagas de vendedor. Ele acredita que a sua pouca experiência — só trabalhou como auxiliar de serviços gerais de limpeza — não ajuda em quase nada e que as empresas são resistentes a darem oportunidades a pessoas sem qualificação em uma determinada área. “Como uma pessoa pode ter experiência se eles não contratam?”, questionou o estudante.