Valor econômico, v. 21, n. 5130, 18/11/2020. Brasil, p. A6
Sem especialistas em saúde, pasta vê 2 Estados com imunidade de rebanho
Lu Aiko Otta
18/11/2020
Para secretaria comandada por Adolfo Sachsida, Roraima e Amapá já teriam atingido esse patamar
Roraima e Amapá já teriam atingido a imunidade de rebanho para o coronavírus. Acre, Amazonas, Pará, Sergipe, Maranhão e Alagoas estariam perto disso. É o que aponta o relatório de pesquisa “Estimação dos Níveis de Infecção por Covid-19 no Brasil”, elaborado pelos economistas Erik Figueiredo, Démerson André Polli e Bernardo Borba de Andrade.
Esse estudo deu a base para o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, falar que a probabilidade de uma segunda onda do coronavírus é muito baixa. Figueiredo, pós-doutorado na Universidade do Tennessee Knoxville, é subsecretário de Política Fiscal e segue atuando como pesquisador.
O trabalho toma a estimativa de casos no Brasil captados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid e utiliza um modelo probabilístico para “corrigir” o efeito de testagens incompletas e falso-negativos. Com isso, calcula o percentual da população que teria sido afetada pela doença em cada Estado.
O conceito mais utilizado considera que a imunidade de rebanho é atingida quando 60% da população está imune. Mas há outra abordagem, proposta pelo pesquisador Ricardo Aguas, que considera um índice de 20%. Essa segunda visão tem sido negligenciada, disse o subsecretário.
A fórmula que determina o índice de 60% considera que a doença se espalha de forma aleatória na população. Já a que considera 20% parte do pressuposto de que há grupos com maior risco de contágio do que outros.
Conforme o estudo de Figueiredo, Polli e Andrade, 30,56% da população de Roraima já teria sido contaminada, assim como e 25,32% da do Amapá. Pela linha de corte de 20%, esses dois Estados já teriam atingido a imunidade de rebanho. Acre, Amazonas, Pará, Sergipe, Maranhão e Alagoas apresentaram índices superiores a 15%, estando, portanto, próximos da imunidade.
Sachsida frisou que a Secretaria de Política Econômica não recebe dados do Ministério da Saúde nem tem especialistas na área. Os números apresentados são cálculos estatísticos a partir da Pnad Covid.
O estudo estima que, embora o número de casos confirmados represente 2,2% da população brasileira, o número efetivo estaria entre 3,7% e 20%.
Outros trabalhos citados pelos autores apontam para resultados semelhantes ou até mais elevados. Estudo do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, que reúne colaboradores de PUC-RJ, Fiocruz e Instituto D’Or, e cálculos elaborados por Hazhir Rahmandad apontam que o número real de infectados é perto de dez vezes o valor reportado. Nesse caso, o Brasil estaria próximo de 20% da população atingida. Já o modelo epidemiológico Youyang Gu aponta 16,9% de brasileiros contaminados.