Correio braziliense, n. 20964, 16/10/2020. Brasil, p.7

 

33 milhões de quilos de comida em 8 meses

Simone Kafruni 

Edis Henrique Peres 

16/10/2020

 

 

No Dia Mundial da Alimentação, celebrado hoje, há motivos para comemorar. O Prêmio Nobel da Paz reconheceu o programa mundial de alimentação da Organização das Nações Unidas, o que dá visibilidade ao tema e o coloca em uma agenda global. Luciana Quintão, fundadora e presidente da ONG Banco de Alimentos, alerta que a pandemia transformou a vida de todo o planeta. “A crise econômica aumentou catastroficamente os indicadores da fome ao redor do mundo. Porém, as limitações impostas pela covid-19, como o isolamento social, acarretaram muita reflexão. Queremos trazer ideias para nutrir nossa esperança de um futuro melhor para todos”, diz.

O Brasil voltou ao Mapa da Fome em 2018, do qual havia saído em 2014. A última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 10,3 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar grave, dado que se agravou com a pandemia da covid-19. Embora o Brasil esteja no ranking dos 10 países que mais produzem alimentos, também está entre os 10 que mais os desperdiçam. Um terço da produção vai para o lixo, quantidade suficiente para atender às necessidades nutricionais de cerca de 11 milhões de pessoas e reduzir a fome para níveis inferiores a 5%.

O maior banco de alimentos da América Latina, o Mesa Brasil Sesc, que há 26 anos une os doadores a seis mil instituições assistenciais para levar alimento a famílias vulneráveis, contabiliza números positivos. Segundo a gerente de Assistência do Departamento Nacional do Sesc, Ana Cristina Barros, houve aumento de 30% nas doações de alimentos em todo o país, entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

O programa distribuiu mais de 33 milhões de quilos de alimentos em oito meses. Em agosto, esse aumento foi ainda maior: 53% a mais do que o mesmo mês em 2019. “Nosso objetivo é atacar o desperdício e, ao mesmo tempo, ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes, os alimentos, por estarem fora do padrão de comercialização, iam parar no lixo, por ter um amassadinho ou estar maduro. Nós fizemos a logística de pegar onde sobra e levar aonde falta”, conta.

Mais famílias

 A média de beneficiados pelo trabalho do Mesa Brasil saltou de 1,4 milhão para 3,5 milhões de pessoas este ano. “Quando começou a pandemia, em março, o Sesc entendeu que o Mesa Brasil era um grande ativo para enfrentar a fome. Ampliamos a rede de doadores, de produtores rurais, feirantes, pequenos comerciantes, indústrias de alimentos e varejistas, e aumentamos o número de famílias contempladas”, explica Ana Cristina.

Como muitas instituições assistenciais, como creches, fecharam por conta da pandemia, a organização passou a atender as famílias diretamente. “Além disso, fizemos um trabalho de captação de recursos financeiros junto a organismos internacionais e pessoas físicas e, com isso, passamos a comprar cestas básicas para distribuir”, revela. “Houve uma mobilização para ação emergencial, mas, como essa situação social vai perdurar, porque os efeitos (da pandemia) vão se alongar, acredito que continuaremos esse trabalho de captação de parceiros”, aposta.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro