Título: Bando de Cachoeira perde R$ 100 milhões
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2013, Política, p. 4

Por decisão da Justiça Federal, o bicheiro goiano e quatro pessoas ligadas ao esquema de exploração de jogos ilegais terão que entregar casas, fazendas, veículos e até um avião

O bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e quatro pessoas ligadas a ele vão perder, por ordem da Justiça Federal em Goiás, cerca de R$ 100 milhões em bens. O valor, segundo o Ministério Público Federal (MPF) em Goiânia, corresponde a uma parcela da dívida dos sentenciados, já que o total devido ainda será calculado, pois o contraventor é suspeito de ter usado laranjas em seus negócios para a aquisição de imóveis, veículos e, até, um avião. Cachoeira e seus parceiros ainda terão que pagar, cada um, multa de R$ 156 mil à União pelas despesas vinculadas à investigação policial, que desarticulou a exploração de máquinas caça-níqueis em Goiás e no Distrito Federal.

A multa é decorrente de uma ação protocolada pelo MPF, que exigia o ressarcimento dos gastos da Operação Monte Carlo, desencadeada em 29 de fevereiro do ano passado pela Polícia Federal, que prendeu Carlinhos Cachoeira e vários integrantes de seu grupo. Além desse ressarcimento, o bicheiro e Gleyb Ferreira, um de seus principais colaboradores, terão que pagar outra multa de R$ 156,9 mil, referentes ao custo da Operação Apate, realizada em maio de 2011, que visava ao combate da sonegação fiscal e na qual ambos foram envolvidos.

Segundo o MPF, vários bens, principalmente imóveis, que estão em nome de integrantes do grupo de Cachoeira — todos condenados em dezembro do ano passado a penas que variam entre 7 e 30 anos de prisão — foram alvo da ação de perdimento. Da lista constam dois carros e um apartamento na Asa Norte, em Brasília, que estariam em nome de Idalberto Matias, o Dadá, que era da área de inteligência do grupo do bicheiro. Em nome de Lenine Araújo de Souza, braço direito do bicheiro, estão dois veículos, três terrenos em Valparaíso de Goiás e dois imóveis em Caldas Novas (GO). A sentença de perdimento também atinge uma gleba de 10 mil m² em Luziânia (GO), no valor de R$ 1 milhão, em nome de Raimundo Washington Souza Queiroga.

Além disso, conforme levantamento da Justiça Federal em Goiás, cinco apartamentos — quatro em Águas Claras e um em Taguatinga — estão registrados no nome de José Olímpio de Queiroga, também do grupo de Cachoeira. No nome dele também estão escrituradas duas fazendas em Mimoso de Goiás e Valparaíso de Goiás, além de um prédio comercial no Riacho Fundo, no DF. Em nome de Cachoeira, consta apenas um terreno em um condomínio de luxo em Goiânia, avaliado em R$ 1,5 milhão. A Justiça ainda identificou outros bens, como apartamentos, lotes, casas, fazendas, empresas, carros e até um avião em nomes de terceiros, os chamados laranjas do esquema.

Conforme a relação levantada pelo MPF em Goiás, os bens em nomes dos laranjas podem chegar a R$ 100 milhões e envolvem diversos tipos de imóvel, principalmente apartamentos de luxo localizados no Rio de Janeiro e em condomínios fechados de Goiânia, cidade onde mora Carlinhos Cachoeira. Além disso, há fazendas no interior goiano e um avião, orçado em torno de R$ 750 mil.

A maior parte do grupo foi condenada por formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato e violação de sigilo. O esquema também envolveu agentes públicos de várias esferas, principalmente policiais civis, militares e federais. Carlinhos Cachoeira foi condenado a 39 anos e 8 meses de cadeia. Para Lenine Araújo, a sentença foi de 24 anos e 4 meses de prisão, enquanto Dadá pegou 19 anos e 3 meses em regime fechado. José Olímpio Queiroga, por sua vez, recebeu pena de 23 anos e 4 meses de prisão. Todos entraram com recursos para permanecerem em liberdade enquanto o processo não é concluído. Gleyb e Wladmir Garcez, ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, também foram condenados, mas a Justiça determinou que eles cumprissem pena em regime semiaberto.

Memória Imóveis em promoção Em setembro do ano passado, o Correio mostrou que integrantes do grupo do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tentavam vender parte dos imóveis em nome de laranjas. Na época, o bicheiro estava preso na Penitenciária da Papuda. Para isso, acionaram pelo menos oito corretores para encontrar interessados nesses imóveis, a maioria, terrenos, lotes e galpões em Santa Maria (DF) e em Valparaíso (GO). A intenção era vender as propriedades a preços abaixo dos praticados no mercado, para que o dinheiro pudesse ficar disponível o mais rápido possível.

Segundo levantamento feito à época, a maior parte dos bens estava em nome de José Olímpio Queiroga Neto, um dos presos na Operação Monte Carlo, condenado pela Justiça Federal em dezembro do ano passado. Segundo a Polícia Federal, ele é um dos principais colaboradores de Cachoeira na exploração de jogos ilegais no Distrito Federal. José Olímpio seria proprietário de terrenos avaliados em mais de R$ 1 milhão. Além disso, o esquema de Cachoeira teria usado empresas de fachada em nome de laranjas, como construtoras, que chegaram a ser investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Patrimônio milionário Idalberto Matias (Dadá) - Dois carros e um apartamento na Asa Norte, no valor de R$ 600 mil.

Lenine Araújo de Souza - Dois carros, três terrenos em Valparaiso (GO) e dois imóveis em Caldas Novas

Raimundo Washington Queiroga - Uma gleba de 10 mil m² da Fazenda Quinta, em Luziânia, avaliada em R$ 1 milhão

José Raimundo Queiroga - Quatro apartamentos em Águas Claras e um em Taguatinga, no valor de R$ 2,3 milhões; duas fazendas em Goiás (Mimoso de Goiás e Valparaíso); um prédio comercial e um lava a jato no Riacho Fundo (DF)

Carlinhos Cachoeira - Um terreno em condomínio de luxo, em Goiânia, no valor de R$ 1,5 milhão

Laranjas - A Justiça ainda não concluiu o levantamento total dos bens vinculados ao grupo de Cachoeira, que incluem apartamentos, casas, terrenos, fazendas, galpões, automóveis e um avião