Título: Surpresa no parlamento
Autor: Chaib, Julia; MAriz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2013, Brasil, p. 8

A manifestação do Conselho Federal de Medicina (CFM) caiu como uma bomba no Congresso, reacendendo o debate sempre acalorado em torno do aborto. Câmara e Senado têm hoje, pelo menos, 19 propostas ativas sobre o tema — algumas extinguindo a punição e outras que até pretendem fazer da interrupção voluntária da gestação um crime hediondo. Integrantes da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida — Contra o Aborto anunciaram ontem que convocarão o CFM para prestar explicações e que vão fazer um protesto nas ruas, em junho. Enquanto no Legislativo o barulho foi intenso, o governo preferiu silenciar. A Secretaria de Direitos Humanos, a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Ministério da Saúde recusaram-se a comentar o assunto, que dominou as últimas eleições presidenciais.

O líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), classificou a matéria como “muito delicada” para o parlamento. “Há uma ampla maioria aqui que, ou por convicção ou por princípio religioso no entendimento do que seja a vida, é contra (o aborto).”

Relator da reforma do Código Penal, o senador Pedro Taques (PDT-MT) disse que defende “a vida e o direito de existir”. Mas ressaltou que caberá aos deputados e senadores avaliar o projeto. Entre as propostas no Congresso, a maioria tende a endurecer a punição da mulher que pratica o aborto. Um dos projetos, por exemplo, quer criminalizar, inclusive, o aborto decorrente de estupro, situação que é permitida pela lei brasileira.

Colaboraram Adriana Caitano e Renata Mariz

Povo fala Você é a favor da descriminalização do aborto até o terceiro mês de gravidez?

Dina Moreira, 45 anos, estudante “Sou completamente contra. Deus deu a vida e só ele pode tirar. Não pode liberar para todas fazerem só porque elas querem”.

Edmar Silva, 37 anos, autônomo “Essa é a opção de cada uma. De repente, acaba preservando uma vida, em vez de tirar duas, como acontece quando a mulher faz aborto ilegal, sem nenhum cuidado”.