Título: Joia para o Morro da Capelinha
Autor: Paganini, Arthur
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2013, Cidades, p. 30

Último projeto destinado à capital por Oscar Niemeyer, uma igreja em forma de cata-vento, é apresentado

O espetáculo religioso mais famoso do DF, a Paixão de Cristo encenada no Morro da Capelinha poderá ser consagrada com uma joia assinada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Anualmente, mais de 150 mil pessoas são levadas pela fé para testemunharem a crucificação de Jesus, encenação que envolve cerca de 1,5 mil atores e produtores há 40 anos. Ontem, o chefe do escritório de Niemeyer, Jair Varela, apresentou a parlamentares, ao governo e aos organizadores da atração o último projeto assinado em vida pelo arquiteto para Brasília, uma capela capaz de abrigar 50 pessoas que lembra, vista do alto, um cata-vento.

O arquiteto que criou a maior parte dos monumentos da capital finalizou o trabalho da capela em maio do ano passado, mas só agora os representantes do escritório concluíram os estudos para atender a possibilidade de construção imediata da obra. À época, ele publicou uma carta revelando a felicidade em “desenhar uma igrejinha que vai despertar surpresa por sua forma pouco convencional, capaz de sobressair como uma joia lapidada”, diz trecho do documento. O croqui traz cinco placas de concreto, de diferentes tamanhos, dispostas de forma circular e convergentes a um mesmo ponto para o alto. Cada uma com tamanhos diferentes — a mais alta tem 12 metros —, elas terão espaço entre si para abrigarem vitrais, que trarão mais iluminação e ventilação ao ambiente de 100m².

“O projeto tem a marca da simplicidade, característica de Niemeyer, idealizado para ser único, como todas as suas obras, e pensado para ser mais bonito por dentro do que por fora, com ampla visão externa a partir de seu interior”, explicou Varela. Segundo ele, o projeto é de simples execução e pode ficar pronto em oito meses. Mas há desafios a serem superados para a coroação do projeto. É que o terreno onde está localizada a atual capela, de madeira, é de propriedade particular e os recursos para a execução da obra não podem ser empenhados pelo governo, respeitando-se a laicidade do Estado.

Mobilização Como o GDF não pode financiar a construção, o Executivo pretende ajudar de outra forma. Ontem, durante a reunião feita no Palácio do Buriti, o governador Agnelo Queiroz se comprometeu a mobilizar esforços para tirar o projeto do papel. “Os proprietários têm compromisso com a tradição da encenação no Morro da Capelinha, e creio que fariam a venda desse terreno de bom grado. Vamos conversar com o setor empresarial da cidade para adquirir essa área e financiar a construção, que está orçada em cerca de R$ 400 mil”, disse.

Erguida, a capela deverá ser repassada à Arquidiocese de Brasília para a incorporação e administração do novo patrimônio. Como toda igreja, o nome será definido a partir do santo ao qual ela seria consagrada, processo que pode levar em conta o clamor popular para batizar o novo espaço.