O globo, n. 31849, 18/10/2020. País, p. 8
O jogo bruto nas redes Chega à disputa do Rio
João Paulo Saconi
Bernardo Mello
18/10/2020
Contas falsas ligadas à campanha de Paes compartilharam ataques contra Martha Rocha, e o ex-prefeito se diz alvo de disparos em massa do chefe de gabinete da pedetista. Funcionários da prefeitura têm atuação coordenada para atingir rivais de Crivella
Vídeos apócrifos de ataques a candidatos a prefeito do Rio foram disponibilizados por perfis de mídia social de apoiadores dos três principais oponentes da eleição. Saíram de grupos no Facebook que defendem a candidatura de Eduardo Paes (DEM), de relatos pessoais de servidores lotados na gestão do prefeito Marcelo Crivella (republicanos) e de um funcionário do Gabinete da Deputada Estadual Martha Rocha (PDT). Os vídeos obtidos pelo globo, que não possuem identificação de autoria, trazem críticas e ofensas relacionadas a episódios da vida pública de candidatos. Para especialistas, a conduta pode violar a legislação eleitoral e gerar preocupação com o controle das falsas notícias veiculadas nas redes, questão que já veio à tona na eleição de 2018.
O lançamento de um vídeo apócrifo contra Martha Rocha nesta segunda-feira ocorreu em pelo menos dois dos 25 grupos divulgados no site oficial do candidato do DEM - dois perfis falsos participaram da divulgação. Nas imagens, foram citados dados da gestão do pedetista à frente da Polícia Civil do Rio e a afirmação de que, na época, “o Rio nunca viu tantos crimes sem solução”. Procurada pelo mundo, campanha do Paes disse que retirou os responsáveis pelas ações, feitas por contas identificadas com os nomes "Sergio Lima" e "Carla Silveira", cujos perfis começaram a fazer publicações na mesma data, 18 de setembro, quatro dias antes dos 25 grupos da campanha serem criado.
O “Sergio”, que dirigia todos os grupos até anteontem, chegou a se identificar com uma foto que, aliás, pertence a um professor universitário residente em Ferrara, Itália. "Carla", que também dificultou o próprio reconhecimento por meio de imagens, fez três posts no Facebook afirmando fazer parte da equipe do candidato do Dem. A dupla, no entanto, não existe na vida real. De acordo com a campanha do Paes, as contas de “Sergio” e “Carla“ foram criadas ”à revelia da coordenação da campanha", com o objetivo de proteger a identidade dos utilizadores originais contra possíveis ataques de ódio de aplicações opostas. A nota refere ainda que ataques a concorrentes não são permitidos Instagram Facebook e Instagram: na semana passada, campanha de Martha Rocha obteve liminar no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) que determinou que um vídeo apócrifo compartilhado por quatro páginas de apoio a Paes fosse excluído. dias depois, a defesa da ex-prefeita se juntou a uma ação contra a deputada e seu chefe de gabinete no Alerj, Guilherme De Jesus Nanni. A defesa de Paes alega que, a serviço da campanha de Martha, Nanni compartilhou com o Contatos no WhatsApp uma série de mensagens de imagem e vídeo com ataques ao candidato do Dem. A solicitação é para que ele seja impedido de fazer novos embarques do tipo.
A campanha de Martha informou que Nanni contribui voluntariamente com seu horário de folga e nega que tenha realizado tiroteios em massa de mensagens contra Paes. O candidato do PDT disse ainda que “causa estranheza” a ação de Paes ter sido ajuizada após a recente decisão favorável a Martha.
“GUARDIÕES DO CRIVELLA”
No caso de Crivella, pelo menos quatro autoridades da prefeitura do Rio coordenam grupos no Facebook, com até 13 mil membros, com o objetivo de promover a candidatura do prefeito e atacar opositores. Eles não se identificam publicamente como funcionários no grupo ou em seus perfis. O grupo “Torcedores e Guardiões de Crivella” tem entre seus administradores Eduardo Gil dos Santos Duarte, lotado em posição especial na cidade do Rio, com um salário de R $ 7,8 mil. Em setembro, foi flagrado pela TV Globo como um dos funcionários da prefeitura que abordava jornalistas e pacientes na porta de hospitais. Em grupos, os funcionários convocam comícios virtuais, inclusive nas páginas do adversário, e também divulgam vídeos apócrifos contra outros candidatos. No último dia 8, por exemplo, Jaym Eduardo Mello, comissionado na Secretaria de Assistência Social,
Em nota, o município afirmou que “nenhuma das pessoas citadas é administradora de perfis oficiais da Câmara Municipal”, e que “é garantido aos cidadãos o direito de livre manifestação” ”A campanha do autarca afirma que os funcionários“ não fazem parte do equipe responsável pelos perfis de Crivella. ”
A pesquisadora Luiza Bandeira, do Digital Forensic Reaserch Lab (Drflab, órgão do Atlantic Council), que ajudou a identificar a rede coordenada de grupos e contas falsas, destacou a falta de clareza na descrição dos grupos no Facebook, sua conexão com a campanha, explicada apenas no site oficial do Paes. Segundo ela, a existência de grupos criados serialmente não viola os termos de uso da rede social, mas sim o uso de contas com informações falsas, sim:
- Os aplicativos podem descobrir que perderão se não adotarem esses comportamentos, mas há o risco de que os ardis sejam descobertos. Membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Andréa Ribeiro Gouvêa explica, sem se referir a casos concretos, que as campanhas podem ser multadas em até R $ 30 mil por propaganda irregular nas redes, mesmo que a divulgação não seja feita pelo próprio candidato - - Propaganda anônima é proibida por lei. O candidato com ar de Yak anseia por responsabilidade. Se a campanha faz alusão ao grupo de apoiantes (que produzem atentados ou notícias falsas), não há como dizer que não sabem.