Valor econômico, v. 21, n. 5133, 23/11/2020. Brasil, p. A7

 

Brasil faz retirada gradual de estímulos, afirma Guedes

Fabio Graner

23/11/2020

 

 

Ministro diz que país tem seguido recomendação do FMI de manter apoio à economia enquanto houver a crise na saúde

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ao Valor que o Brasil está praticando a recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI), reiterada na reunião de ontem do G20, de manter apoio à economia enquanto há a crise de saúde.

“Prorrogamos duas vezes o auxílio emergencial. Renovamos a primeira vez em R$ 600. Depois renovamos novamente até o fim do ano, mas desta vez em R$ 300. Nós já estamos praticando o que eles estão falando. Temos praticado a retirada gradual”, disse o ministro.

Ele lembrou que a redução do auxílio pela metade ocorreu na esteira da redução de casos e mortes, que chegou a bater a marca de mil óbitos diários e caiu para cerca de 300. “Nós estamos atentos e tomamos os cuidados, tanto que já prorrogamos duas vezes o auxílio”, reforçou.

A fala do chefe da Economia tem tom diplomático, embora o FMI recentemente tenha incomodado parte da equipe, com suas projeções que estavam sendo bem mais pessimistas para o desempenho e algumas recomendações para manter suporte fiscal em 2021.

Guedes avalia que o programa de atuação econômica do Brasil na pandemia tem sido bem sucedido, reduzindo os impactos da crise sanitária no emprego e promovendo uma recuperação da atividade econômica que tem sido mais intensa que a maioria dos países.

O ministro reiterou a mensagem de que o plano do governo é voltar em janeiro ao padrão fiscal normal, com despesas limitadas ao teto de gastos. A ideia, explica, é que o motor do crescimento então passe a ser os investimentos privados, que teriam estímulos a partir dos novos marcos regulatórios, como saneamento (já aprovado e em vigor), gás natural, cabotagem, setor elétrico, petróleo, 5G, entre outros que estão no Congresso.

“Estamos aprovando os novos marcos regulatórios exatamente para transformar a recuperação cíclica baseada em consumo em retomada de crescimento autossustentável com base em investimentos”, salientou.

A equipe econômica tem se preocupado em passar uma mensagem de que não vai descuidar do lado fiscal, diante do quadro de elevado endividamento, que já supera 90% do Produto Interno Bruto (PIB) e que poderá chegar a 100% de todas as riquezas produzidas pelo país em um ano. Muitos economistas temem que a simples volta ao teto de gastos em 2021 prejudique a economia.

O ministro tem dito em seus discursos que, caso necessário, se houver uma segunda onda da covid-19, o governo vai agir para proteger os mais vulneráveis. Ou seja, em caso de uma forte retomada de casos e mortes, o auxílio emergencial será prorrogado.

Ainda não está definido qual seria o valor ou quantas famílias seriam atendidas em eventual prorrogação do auxílio, no caso de segunda onda. Mas as indicações são de seguir o conceito de transição, diminuindo o valor e o alcance.

Na semana passada, a Instituição Fiscal Independente (IFI) apresentou diferentes cálculos de custos caso o governo resolva prorrogar o benefício. Em uma das contas, a manutenção de R$ 300 por quatro meses, mas para 26 milhões de pessoas, menos da metade do universo atual que é beneficiado, custaria R$ 15,3 bilhões.