Título: PDT evita apoio à reeleição de Dilma
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 23/03/2013, Política, p. 4

Em convenção que reconduziu Lupi ao comando do partido, o tom foi de independência. "Relação com o governo é boa, mas pode melhorar", reclamou o ex-ministro

A volta por cima no partido, depois do purgatório iniciado em 2011 com seu afastamento do Ministério do Trabalho em meio a denúncias de corrupção, e o fato de ter emplacado um aliado na pasta, em substituição ao desafeto Brizola Neto, não foram suficientes para o presidente reeleito do PDT, Carlos Lupi, garantir apoio à eventual candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição em 2014. “Essa é uma discussão que só vamos começar a fazer agora”, afirmou Lupi, logo depois de ser eleito por aclamação para um segundo mandato consecutivo para mais dois anos no comando da sigla, ontem.

Lupi acrescentou que a relação do PDT com o governo Dilma poderia ser melhor. “A relação com o governo está boa, mas pode melhorar”, disse. “É claro que quando a gente está no governo e ele está dando certo nós vamos ficar sempre ou com candidatura própria ou com a candidatura de alguém que represente essas conquistas que defendemos”, disse o presidente do PDT.

Ligado a Lupi, o novo ministro do Trabalho, Manoel Dias, reforçou o discurso de independência. “Em 2014 será outra eleição, uma discussão que o partido vai fazer a partir de agosto”, disse o ministro, que foi reconduzido para a secretaria-geral da legenda.

Brizola Neto Defenestrado do Ministério do Trabalho, Brizola Neto viu seu poder de fogo encolher dentro do partido e não conseguiu número suficiente de apoios para registrar uma chapa a fim de concorrer com Lupi pelo comando do PDT. Ele ainda tentou impedir a realização da convenção por meio de liminar, sem sucesso. A juíza Mara Silda Nunes de Almeida, da 17ª Vara Cível de Brasília, negou o pedido de cancelamento da convenção.

No novo diretório, a cadeira de Brizola na segunda vice-presidência passou a ser ocupada por Miguelina Vecchio, que era presidente do PDT Mulher. A disputa entre Brizola Neto e Lupi pelo legado político de Leonel Brizola, fundador do partido, se refletiu no nome dos dois grupos opostos. A chapa de Brizola Neto se chamaria “Volta às Origens. Brizola Sempre”. A de Lupi foi batizada de “Brizola Vive. Brizola Sempre”. Os apoiadores do presidente reeleito ainda levavam no pescoço o lenço vermelho, como o que era usado por Brizola.

Em discurso, Lupi fez referência à crise entre as duas alas e pediu por “conciliação”. “Não podemos ser pequenos para brigar e deixar que ofensas pessoais e agressões sejam maiores que a história do nosso partido”, afirmou.

Ausente à cerimônia de transmissão de cargo no Ministério do Trabalho, Brizola Neto tampouco compareceu ao processo eleitoral interno de seu partido, realizado em Luziânia (GO), a 40 quilômetros de Brasília. Lupi afirmou já ter conversado com Brizola Neto, na tentativa de aparar as arestas. “Eu estive com ele semana passada, conversamos durante três horas. Eu não sou homem que me alimento de nenhum sentimento ruim. Meu alimento, o instrumento da minha vida é querer bem, é fazer o bem.”

Aliado do governo de Dilma Rousseff, o PDT reúne uma bancada federal de quatro senadores e 26 deputados. O partido, que elegeu três prefeitos de capitais em 2012, não tem nenhum governador e se queixa de andar a reboque do PT no plano nacional. “O PDT é hoje um puxadinho do PT”, disse o senador Pedro Taques (MT).

Memória Escândalos em série

Um dos ministros da equipe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que permaneceram no primeiro ano da gestão de Dilma Rousseff, Carlos Lupi entrou para a “faxina” de Dilma em novembro de 2011, quando surgiram denúncias envolvendo assessores diretos dele a um esquema de cobrança de propina a ONGs fiscalizadas pela pasta.

A resposta do então ministro foi rápida. Um dia depois do caso vir à tona, afastou um servidor supostamente ligado ao esquema, mas a reportagem apenas deu início a uma série de denúncias sobre cobrança de propina, dessa vez em troca de registros de “sindicatos-fantasmas”.

A onda de escândalos envolvendo o ministério chegou a Lupi com a revelação de que o ministro viajou para o Maranhão em 2009 em um voo particular bancado pelo empresário Adão Meira, dono de ONGs que mantinham contratos com o Ministério do Trabalho. A princípio, Lupi negou conhecer o empresário, mas o surgimento de fotos mostrando o ministro descendo do avião em companhia de Meira agravou a crise.

Em 30 de novembro de 2011, a Comissão de Ética Pública recomendou à presidente Dilma a demissão do ministro. A presidente ainda resistiu à recomendação e pediu à Comissão mais informações sobre o caso. Ao mesmo tempo, veio à tona o fato de Lupi ter acumulado, por quase cinco anos, dois cargos de assessor parlamentar, um na Câmara dos Deputados e outro na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Em 4 de dezembro, o ministro entregou sua carta de demissão, afirmando sofrer uma perseguição “política e pessoal” da mídia. Na tentativa de se blindar da crise, o PDT afastou Lupi temporariamente do comando da sigla.