O Estado de São Paulo, n.46303, 26/07/2020. Política, p.A12

 

Órgão do Ministério da Justiça passa a monitorar opositores

Patrik Camporez

26/07/2020

 

 

Criada para investigar redes de pedofilia e crime organizado, secretaria produz dossiê sobre servidores 'antifascistas'

Criada na gestão de Sérgio Moro com a missão de integrar operações policiais contra o crime organizado, redes de pedofilia, homicidas e crimes cibernéticos, a Secretaria de Operações Integradas (Seopi), do Ministério da Justiça, foi remodelada e, sob o comando de André Mendonça, passou a ter como foco a investigação e produção de relatórios sigilosos sobre opositores políticos do presidente Jair Bolsonaro.

Conforme revelou o colunista Rubens Valente, do Uol, anteontem, a mais recente investida da Seopi foi a produção de um dossiê contra 579 servidores federais e estaduais da área de segurança e professores identificados como integrantes do "movimento antifascismo". O Estadão confirmou a existência da lista de investigados.

O relatório foi confeccionado poucos dias depois da divulgação, em 5 de junho, do manifesto "Policiais antifascismo em defesa da democracia popular", assinado por 503 servidores da área de segurança.

A mudança de atribuições da Seopi teve início logo após a nomeação de Mendonça no Ministério da Justiça, em 28 de abril. Após tomar posse, ele escolheu um delegado da Polícia Civil do Distrito Federal para comandar a secretaria e, cerca de um mês depois, teria solicitado uma investigação completa de movimentos que poderiam colocar em risco a "estabilidade política do atual governo".

Um agente que integra a gestão do órgão desde a sua criação disse que a missão da Seopi é produzir inteligência e realizar operações, mas "o foco era outro". Segundo ele, não havia qualquer pedido para produção de relatórios contra inimigos políticos. Agora, afirmou, há orientação "expressa" para a elaboração de documentos com dados detalhados de pessoas monitoradas.

O Ministério da Justiça afirmou ao Estadão que o objetivo da Seopi é "acompanhar ameaças potenciais ou reais" e "subsidiar decisões que visem ações de prevenção, neutralização e repressão de atos criminosos de qualquer natureza". A pasta não quis comentar o dossiê contra professores e policiais.