Título: Longa fila prejudica exportação de grãos
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 23/03/2013, Economia, p. 16

No porto de Santos, caminhões demoram até 40 dias para desembarcar a carga. A falta de infraestrutura ameaça o sucesso da produção

A tão comemorada supersafra de grãos no país corre o risco de não ultrapassar as fronteiras brasileiras. Os portos estão entulhados de caminhões, que se enfileiram por até 40 dias à espera do momento em que poderão descarregar as mercadorias. Segundo o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, a safra de milho pode chegar a 22 milhões de toneladas, o dobro do ano anterior, enquanto o volume de soja deve crescer para 40 milhões de toneladas, alta prevista de 30%. O risco é que essa montanha de alimentos se perca, porque, não havendo escoamento eficiente, faltam silos para estocagem.

Para especialistas, o problema é crônico. “Isso acontece todos os anos. O governo não investe em infraestrutura e na ampliação das vias de acesso terrestre”, aponta o diretor executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima de São Paulo (Sindamar), José Roque. Já a Anec cobra mais recursos para transportes ferroviários e hidroviários. “Mais de 50% do processo de exportação é feito por rodovias. Para grandes distâncias, esse é o pior meio”, afirma Teixeira. Em nota, o ministro Leônicas Cristino, titular da Secretaria Nacional dos Portos, afirma que o governo está atento às dificuldades. “Os problemas de infraestrutura portuária já são conhecidos, e a MP nº 595 propõe soluções para o aumento da capacidade e da eficiência dos terminais brasileiros”, afirma.

No bolso No Porto de Santos — um dos mais utilizados para escoar grãos —, um navio que comporta 60 mil toneladas levaria dois dias para ser descarregado. Atualmente, segundo José Roque, esse tempo varia entre um mês e 40 dias. “O prejuízo gerado aos exportadores, por embarcação, vai de US$ 25 mil a US$ 80 mil por dia.” O diretor do Sindamar considera que essa ineficiência prejudica a imagem do Brasil nos mercados interno e externo. “A balança comercial é afetada, a mercadoria é desvalorizada e o país perde para a concorrência”, diz. Dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) indicam que, em 2012, a tonelada da soja era vendida a US$ 520. Com a crise, o valor deve cair para US$ 450.

Como reflexo da falta de infraestrutura do país, um dos maiores grupos de comercialização de soja do mundo, o chinês Sunrise, anunciou que vai cancelar a compra de 2 milhões de toneladas do produto e negociar com países vizinhos, como a Argentina. A empresa esperava 12 navios com a mercadoria nos meses de janeiro e fevereiro. Até o momento só dois desembarcaram. A informação, que foi negada ontem pela assessoria do Ministério da Agricultura, não é boa para o governo brasileiro, tendo em vista que os chineses são candidatos a importar mais de 60 milhões de toneladas de soja até 2014.

» Briga judicial

As longas filas de caminhões na Rodovia Cônego Domênico Rangoni, em São Paulo, foram parar na Justiça. A Santos Brasil — arrendatária do Terminal de Contêineres (Tecon) localizado na margem esquerda do Porto de Santos, no Guarujá — anunciou ontem que vai, na segunda-feira, entrar com recurso contra a liminar vencida pelo Ministério Público de São Paulo, que responsabiliza a empresa pelos longos congestionamentos das últimas semanas e proíbe a permanência ou o estacionamento de caminhões com destino ao Tecon no acostamento e nas demais pistas da estrada. Na notificação judicial recebida pela Santos Brasil, o juiz Ricardo Fernandes Pimenta Justo, da 1ª Vara Cível do Guarujá, estipulou prazo de 48 horas para a empresa se adequar, segundo determinação da liminar, caso contrário será punida com multa de R$ 50 mil por caminhão parado.