O Estado de São Paulo, n.46304, 27/07/2020. Economia, p.B10

 

Como investir em moeda estrangeira

Isaac de Oliveira

27/07/2020

 

 

Dólar, euro, iene e yuan, entre outras, podem ser uma alternativa para o investidor que busca proteção ou especulação

Quando o assunto é moeda estrangeira, ainda é muito comum pensar na compra em casas de câmbio, principalmente para quem está planejando viajar. Mas o mercado de câmbio é muito maior do que a aquisição do dinheiro em espécie. Há diferentes maneiras de se investir na moeda de outros países, seja para fins de hedge (proteção) ou de especulação.

As principais formas de se investir em outras moedas, de dentro do Brasil, são pelos fundos cambiais, fundos multimercados e contratos futuros na B3. O risco de cada um deles, porém, é variado.

O mercado de câmbio é binário, com foco em proteção ou especulação, levando o investidor para a diversificação de carteira e exposição ao mercado internacional. Independentemente do caminho escolhido, o olhar deve estar sempre direcionado para a economia de cada país. "A variação da moeda sempre reflete algo macroeconômico mundialmente", diz Cristiano Lima, superintendente da Mesa de Operações da Ágora Investimentos.

Isso quer dizer que, se na Austrália, o ouro tem forte impacto na moeda, na Noruega é o petróleo que tem destaque. E isso varia de um país para o outro, não só em relação a bens, como em aspectos políticos.

"Se algo está acontecendo na Grã-bretanha que possa estar interferindo no ambiente macroeconômico, como o Brexit, isso permitiria a você especular ou atuar como hedge, operando a libra esterlina aqui pelo Brasil", exemplifica Lima.

Para quem pretende, de fato, se arriscar nesse mercado, o executivo Victor Cotoski, da Infinox Capital, com sede em Londres, afirma que é preciso ficar atento aos calendários macroeconômicos. É que a especulação precisa estar antenada às agendas dos países, e isso envolve não só saber como estão atualmente as taxas de juros e inflação, por exemplo, como os planos dos governos para o curto, médio e longo prazos.

"É isso que você analisa para saber se vai especular contra ou a favor da moeda. O calendário mundial, comparado ao Brasil, é 30, 40 vezes maior. Então, tem de ficar atento às notícias, porque o calendário oferece mais opções para você negociar vários ativos", afirma Cotoski.

Neste sentido, a situação da economia é quem dita quais moedas podem render aos investimentos resultados mais seguros ou atrativos. Cotoski lembra que em momentos de crise, onde há muita volatilidade (queda e alta nos preços), a tendência do capital é ir para o dólar americano e para o iene japonês.

Por onde começar? Para além dos casos restritos em que o dinheiro em espécie é necessário, sendo obtido em casas de câmbio, o caminho para investir em moedas estrangeiras começa em uma corretora, que poderá indicar quais as melhores opções para cada cliente.

Os fundos são consenso quando o assunto é segurança, mas eles variam quanto à sua natureza. Para quem está começando, os fundos cambiais são uma boa dica, uma vez que são tidos como estratégias de proteção do dinheiro. Isso significa que, ao aplicar recursos em real, em um fundo cambial de dólar ou euro, a quantia investida acompanhará a variação dessas moedas, para cima ou para baixo.

"Quem está programando uma viagem para daqui a um ano não deve comprar o papel moeda agora. A recomendação é começar a aplicar em um fundo cambial, porque aí tem a proteção. Se o dólar subir ou cair neste período, ele vai ter, em reais, a mesma quantidade de dólar para a viagem", diz Fábio Macedo, diretor comercial da Easynvest.

Bolsa. A B3 permite uma série de contratos futuros de moedas há algum tempo. São vários contratos de pares de moedas, em que o investidor compra uma moeda simultaneamente à venda de outra. Neste caso, espera-se que haja valorização de uma, por exemplo, o dólar, em detrimento de outra, como o euro.

O princípio dessa modalidade é totalmente especulativo, ou seja, é para aqueles investidores mais agressivos, que aceitam correr riscos. Até há alguns anos, esse tipo de investimento só era possível em mercados fora do Brasil, ou seja, o acesso era mais difícil. Com a disponibilidade na B3, a participação ficou mais barata, e disponível nas plataformas das corretoras de valores brasileiras. Com a possibilidade de entrar e sair a qualquer momento, o investidor terá liquidez, mas também estará suscetível à variação da moeda. É justamente neste aspecto que o executivo vê a importância de um dos mercados com maior liquidez no mundo para o Brasil.

Dólar é, ao lado do iene japonês, porto seguro em momentos de crise

40

vezes é quanto o calendário econômico no mundo é maior em relação aos fatos que o investidor local deve se atentar

Dica

"Quem programou uma viagem não deve comprar papel moeda, mas aplicar num fundo cambial."

Fábio Macedo

DIRETOR DA EASYNVEST

OPÇÕES

Contratos Futuros

A própria B3 oferece uma série de contratos de pares de moedas por meio das corretoras de valores. A modalidade é indicada para investidores com perfil agressivo

Fundos Cambiais

Usado como estratégia de proteção ao dinheiro, os fundos cambiais são indicados para o investidor iniciante que busca segurança e quer se proteger da variação cambial

Fundos Multimercados

Aqui as moedas podem dividir o espaço com outros ativos. Como a gestão é mais agressiva, a aplicação é indicada para investidores moderados ou arrojados

Fonte: Corretoras