Título: PSC teme imagem negativa do pastor
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 25/03/2013, Política, p. 4

Com filiados de diferentes credos e orientações sexuais, integrantes da legenda demonstram preocupação com as declarações racistas e homofóbicas de Marco Feliciano»

Desde que o pastor Marco Feliciano (SP) foi indicado para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, no último dia 5, o até então distante dos holofotes Partido Social Cristão (PSC) ganhou visibilidade em todo o país. A fama trazida por Feliciano não revelou, no entanto, que o PSC é um partido de média expressão — a bancada federal é maior que a de 13 dos 24 partidos com representação no Congresso — e tem em seus quadros também católicos, espíritas, prostitutas, negros e homossexuais.

Nas últimas reuniões do partido, alguns integrantes têm reclamado da imagem negativa adquirida com a superexposição por conta das polêmicas envolvendo Feliciano — o deputado já disse, por exemplo, que os negros são "descendentes de ancestral amaldiçoado por Noé" e que a "Aids é um câncer gay". Muitos temem que toda a legenda receba a pecha de homofóbica e racista, além de parecer que há nela apenas evangélicos. "Mas o partido não é uma igreja, tem gente de toda religião e, graças à democracia, até ateu entra à vontade, desde que concorde com os princípios cristãos", explica o vice-presidente do PSC, pastor Everaldo Dias Pereira.

O vice-presidente do PSC destaca também que o partido não filtra a entrada na legenda por orientação sexual ou profissão. No ano passado, o PSC teve pelo menos dois desses exemplos na disputa por vagas em câmaras municipais. Negro e homossexual, o dançarino Fabety Boca de Motor foi candidato a vereador em Salvador após ganhar destaque com um axé em que se diz "uma bicha transparente, a rainha dos moleques" e ainda faz alusão ao sexo oral. "Nós só dissemos a ele que somos contra o casamento entre homossexuais, mas ele disse que se sentia bem no partido e foi muito bem aceito", relata Pereira. Em Fortaleza, a ex-prostituta e ex-stripper Deborah Soft também disputou as eleições pela sigla cristã, com o slogan "vote com prazer". Nenhum dos dois foi eleito.

De olho no Planalto

A bancada do partido na Câmara não é das menores, tem 16 deputados (17 foram eleitos em 2010, mas um deixou a sigla)— maior até que os conhecidos PPS e PCdoB. Ainda assim, o partido já foi confundido com o de José Maria Eymael (PSDC), eterno candidato a presidente. Mas, além de Feliciano, o PSC tem ou teve outros nomes de expressão nacional, como Ratinho Jr., filho do apresentador do SBT, deputado federal licenciado e que chegou ao segundo turno na disputa pela prefeitura de Curitiba no ano passado; o ex-governador do DF Joaquim Roriz e sua mulher Weslian Roriz, que se candidatou ao posto em 2010 (ambos já deixaram a legenda), e Hugo Leal (RJ), deputado que ficou conhecida por ser relatar o projeto da lei seca.

O que todos os integrantes do partido concordam, porém, é que o episódio trouxe fama à legenda, que deve lançar Everaldo Pereira à presidência e sonha em dobrar a bancada em 2014. "A mesma linguagem que fala de crise fala de oportunidade e temos que aproveitá-la", comenta o vice-presidente da sigla. "Sempre nos tiveram como nanicos e agora as pessoas estão vendo quem somos. O futuro pertence a Deus, mas o presente está ótimo".