Título: Troca de recados
Autor: Moura, Aline; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2013, Política, p. 2

Durante solenidade em Pernambuco, Dilma afirma que ninguém governa sozinho, enquanto Eduardo Campos sinaliza um rompimento futuro

No primeiro encontro com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, após ele dizer que “é possível fazer mais pelo país”, a presidente Dilma Rousseff desfilou o discurso preparado pelo PT para confrontar o possível adversário ao Palácio do Planalto em 2014: o estado administrado pelo presidente do PSB cresceu graças ao apoio que teve do governo federal. “Se você juntar os investimentos federais e aqueles feitos pelas nossas estatais, nós chegamos a um volume extraordinário de R$ 60 bilhões em Pernambuco”, declarou Dilma, depois de anunciar a liberação de R$ 2,8 bilhões de novas obras para o estado.

Dilma esteve em Pernambuco para participar da inauguração da Adutora do Pajeú, em Serra Talhada, sertão pernambucano. A presidente lembrou que, quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Planalto em 2003, instalou-se no Brasil um novo ciclo de desenvolvimento. “Um ciclo que contempla todo o povo brasileiro”, afirmou. “Essa mudança que começa em 2003, podem ter certeza, ela só é real porque é uma mudança na vida das pessoas. É a essa mudança que eu me refiro. As pessoas hoje têm certeza de que o Brasil não tem aquela cara feia que tinha da miséria”, disse.

As palavras da presidente foram milimétricas. Apesar de ter feito sua carreira política em São Paulo, Lula é pernambucano e Dilma fez questão de lembrar as origens de seu antecessor e reforçar o carinho que o PT tem com o estado governado por Eduardo Campos. Ela também reiterou a importância de programas sociais como o Bolsa Família e a política de valorização do salário mínimo, além do aumento do emprego formal. “Só somos respeitados lá fora porque mudamos aqui as condições”, disse, sobre a imagem externa do país.

Dilma também cobrou lealdade, lembrando que “ninguém governa sozinho”. E disse que o país, para continuar crescendo como nos últimos anos, precisa de parceiros comprometidos com esse objetivo. “O Brasil vai continuar numa trajetória de estabilidade e controle da inflação, mas de crescimento. Vamos provar que o país só será forte e desenvolvido se tivermos a determinação e a coragem de continuar por esse caminho, de construir democraticamente uma coalizão para dirigir esse país. Nenhuma força política sozinha é capaz de fazer esse caminho”, avisou a presidente.

Indiretas Sob o sol escaldante da região sertaneja, não faltaram recados indiretos, anúncios bilionários e semblantes fechados. A tônica de Dilma no discurso proferido para mais de 5 mil pessoas presentes no evento, realizado no Parque de Exposição, era: “Ajudo Pernambuco, não esqueço o Nordeste e não faço retaliações”. A de Eduardo, em palavras “mansas”, como ele mesmo disse, era: “Água é um direito e o tratamento igual para todos os estados, um dever”.

O governador, nitidamente incomodado com a situação, também fez questão de destacar as realizações de sua gestão. “Aqui há dois governantes que deixam como legado uma prática política efetivamente republicana”, disse Eduardo.

A saia justa prosseguiu com os discursos da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e do ministro de Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, que falaram sobre os investimentos do governo federal em Pernambuco e sobre a ausência de retaliações em virtude da coloração partidária. Mais uma vez, ficou claro o distanciamento político entre PT e PSB, iniciado desde que Eduardo começou a articular, com políticos e empresários, uma possível candidatura ao Palácio do Planalto no ano que vem.

Eduardo justificou a recepção calorosa pelo perfil do povo pernambucano, mas fez críticas à política de combate à seca, lembrando das perdas para os agricultores, e insinuou o rompimento futuro, mas sem rompantes imediatos. “Dentro de cada pernambucano existe um pouco de sertão. Somos secos às vezes no trato, mas somos generosos nas horas mais difíceis. Somos mansos, presidente, até porque o sertanejo tem que poupar energia. Os gestos são calmos, mas aqui há uma gente que tem uma coragem que não se pode duvidar dela”, avisou.

Dilma aproveitou a fala de Eduardo para discordar sobre o perfil “seco” do sertanejo. “Nós não só não podemos esquecer de onde viemos, como não podemos nos esquecer dos compromissos políticos que lutamos por eles”, disse a presidente.

5 mil Quantidade de pessoas que acompanharam a solenidade no Parque de Exposições de Serra Talhada

"Os gestos são calmos, mas aqui há uma gente que tem uma coragem que não se pode duvidar dela" Eduardo Campos, governador de Pernambuco