O Estado de São Paulo, n.46307, 30/07/2020. Política, p.A12

 

Centrão agora ganha cargo no Turismo

Thiago Faria

30/07/2020

 

 

Ex-senador indicado pelo bloco vai para secretaria do ministério, em um novo sinal de Bolsonaro para tentar consolidar base no Congresso

O presidente Jair Bolsonaro entregou mais um cargo na estrutura do governo a um nome do Centrão, bloco informal que reúne representantes de bancadas de sete partidos, dando sequência à sua estratégia de tentar formar uma base no Congresso. O Diário Oficial da União de ontem registrou a nomeação do ex-senador Vicentinho Alves (PL-TO) para a Secretaria Nacional de Infraestrutura do Ministério do Turismo, pasta chefiada pelo deputado licenciado Marcelo Alvaro Antônio (PSL-MG).

Comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do mensalão, o PL já havia indicado um aliado para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Em maio, Garigham Amarante Pinto, assessor do PL na Câmara, assumiu o posto de diretor de ações educacionais do fundo.

O órgão é um dos espaços mais cobiçados por políticos, com orçamento de R$ 54 bilhões neste ano. Outro partido do Centrão, o Progressistas, também ganhou espaço no órgão ao indicar Marcelo Lopes da Ponte, ex-chefe do gabinete do senador Ciro Nogueira (PI), para presidir o fundo.

O Palácio do Planalto passou os últimos meses distribuindo cargos para indicados pelos partidos que formam o Centrão: além de PL e Progressistas, fazem parte do grupo PSD, Solidariedade, PTB, PROS e Avante. Nas contas do governo, os cargos podem garantir apoio desses partidos em votações importantes no Congresso. Críticos da estratégia têm dito que Bolsonaro ressuscitou a velha prática do "toma lá, dá cá", que condenou durante a campanha eleitoral. O grupo chegou a ter mais de 200 deputados.

Na segunda-feira, no entanto, DEM e MDB anunciaram a saída do bloco, com seus 63 deputados. O motivo é justamente a aproximação dos líderes dos demais partidos com o Planalto e o possível apoio de Bolsonaro ao deputado Arthur Lira (Progressistas-al) na disputa pelo comando da Câmara. As duas siglas devem apoiar um candidato indicado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A eleição está marcada para fevereiro.

Anteontem, Maia disse que a divisão do grupo é "natural e segue um padrão estabelecido pela prática congressual". Segundo ele, isso não tem a ver com sua sucessão na Casa.

Criação. A secretaria que Vicentinho Alves vai comandar foi criada em maio, com a reestruturação da pasta após incorporar a Secretaria da Cultura. Até então, o órgão era um departamento da Secretaria Nacional de Estruturação do Turismo, extinta na nova formação da pasta. A secretaria era ocupada interinamente pelo chefe de gabinete do ministro, Hercy Ayres Rodrigues Filho.

Vicentinho deixou o Senado no ano passado, após não conseguir se reeleger. O agora secretário de Infraestrutura do Turismo já foi prefeito de Palmas, deputado estadual por dois mandatos e deputado federal. Em 2018, ele também tentou se tornar governador na eleição suplementar do seu Estado, convocada após a cassação de Marcelo Miranda (MDB), mas não conseguiu. Apesar do fracasso nas urnas, o ex-senador conseguiu eleger o filho Vicentinho Junior (PL-TO) como deputado federal naquele anos.

Tamanho

158

é o número de deputados que compõem o Centrão, bloco que perdeu o apoio do DEM e do MDB no início da semana. Os dois partidos possuem 63 parlamentares.