O Estado de São Paulo, n.46308, 31/07/2020. Economia, p.B7

 

Maia e Afif trocam farpas por causa da nova CPMF

Adriana Fernandes

Nicholas Shores

31/07/2020

 

 

Assessor de Guedes diz que presidente da Câmara não pode dizer que projeto 'não passa por que não quer'; deputado ironiza imposto

Na linha de frente da disputa pela criação de novo tributo de base ainda mais ampla de incidência do que a extinta CPMF, o assessor especial do Ministério da Economia, Guilherme Afif Domingos, afirmou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), tem o direito de dizer que vai votar contra o imposto, mas não pode deixar de botar o projeto em votação. "Falar que não passa por que não deixo, ele ( Maia) não pode".

Segundo Afif, o presidente Jair Bolsonaro deu sinal verde para o debate do novo tributo que tem grande "potência" arrecadatória para bancar o financiamento da isenção da contribuição das empresas ao INSS para até um salário mínimo e a redução da alíquota de 20% para 15% para todos os trabalhadores com carteira assinada: "O debate está desinterditado".

Em seminário organizado pelo jornal Folha de S. Paulo ea Confederação Nacional da Indústria (CNI), Maia, porém, disparou torpedos contra os planos do governo e classificou a ideia de criar um imposto sobre transações eletrônicas como "CPMF repaginada".

Como antecipou o Estadão, o governo quer arrecadar R$ 120 bilhões com o novo tributo, nos moldes da extinta CPMF, para bancar a desoneração, o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) e viabilizar o novo programa social Renda Brasil, substituto do Bolsa Família.

O governo quer também tributar os lucros e dividendos, reduzir a alíquota do Imposto de Renda das empresas, acabar com os descontos de saúde e educação e, ao mesmo, tempo criar uma alíquota mais alta de 35% do IR para quem ganha rendas mais elevadas.

"A carta está na mesa. Não pode tirar a carta do jogo", cobrou Afif, que nas últimas semanas tem sido, ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, o principal porta-voz da criação do imposto. Em 2007, ele integrou o movimento "Xô CPMF" para barrar a prorrogação do tributo. Ele diz que a CPMF foi um "engodo" e teve sua finalidade desvirtuada e o que o governo deu na época uma "banana" para a saúde, área para qual a sua arrecadação teria de ser enviada, o que não aconteceu.

Agora, diz Afif, a proposta do novo tributo é diferente porque a intenção é não aumentar a carga tributária. "Continua proibido falar em aumento de carga. É um remanejamento e mudança de base", ressaltou.

Na avaliação do assessor de Guedes, o relator da reforma, deputado Aguinaldo Ribeiro (PPPB), tem experiência e jogo de cintura para administrar todas as tendências. "O relator não impõe a sua posição, ele vai medindo a média de opiniões para chegar o seu relatório", disse.

Ironia. Maia ironizou o nome de "microimposto digital" dado por Afif. "Minha crítica não é nem se é CPMF, microimposto digital ou algum nome inglês que vão inventar para ficar bonito", comentou Maia. "Minha crítica é: nós vamos criar mais um imposto para a sociedade pagar?". Segundo ele, não há clima no plenário da Câmara para aprovar tributo nesses moldes. "Minha opinião é que não passa. Eu sou um voto. E em PEC eu voto, e eu voto contra."

Técnicos ouvidos pelo Estadão informaram que o governo vai precisar arrecadar bem mais do que os R$ 120 bilhões com o novo tributo se quiser bancar as mudanças no IRPF, a desoneração da folha de pagamentos e irrigar recursos para o Renda Brasil.

Nova renda

R$ 120 bi

é quanto o governo espera arrecadar com o novo tributo, para bancar a desoneração, o aumento da faixa de isenção IRPF e viabilizar o Renda Brasil

Tiroteio

Guilherme Afif Domingos

Assessor especial do Ministério da Economia "Falar que não passa porque não deixo, ele ( Maia) não pode. (...) A carta está na mesa. Não pode tirar do jogo."

Rodrigo Maia

Presidente da Câmara dos Deputados "Minha crítica não é nem se é CPMF, microimposto digital ou algum nome inglês que vão inventar para ficar bonito."