Título: Oposição na cúpula
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2013, Mundo, p. 14

Um dia depois da renúncia de seu líder, Ahmed Moaz Al-Khatib, a Coalizão Nacional, que agrupa a oposição ao regime de Bashar Al-Assad, garantiu ontem para si a cadeira que cabe à Síria na reunião de cúpula que a Liga Árabe realiza a partir de hoje em Doha, no Catar. Embora na qualidade de chefe demissionário, Al-Khatib chegou ontem à cidade para liderar a delegação no encontro. A imprensa oficial síria criticou em termos duros a decisão. “A Liga Árabe entregou o assento roubado da Síria a bandidos e assassinos”, protestou As-Saura. “Os tambores da traição ressoam em Doha”, anunciou a emissora de TV Al-Ijbariya.

O atual governo de Damasco está suspenso de participar na organização pan-árabe desde 2011, com o início da revolta contra o presidente e a dura repressão imposta pelas forças de segurança a manifestações inicialmente pacíficas. A evolução da crise para uma guerra civil, porém, expôs divisões entre os rebeldes, que se refletem também entre alguns dos países que apoiam mais firmemente a oposição — em especial, têm emergido diferenças entre a Arábia Saudita e o Catar.

A Coalizão Nacional tinha anunciado no domingo que havia recebido convite para participar da cúpula de Doha, representada pelo primeiro-ministro Ghassan Hitto, recém-encarregado de formar um governo para administrar os territórios sob controle rebelde na Síria. O nome do premiê, no entanto, não agradou o Exército Sírio Livre, que declarou não acatar sua autoridade. Fontes próximas aos rebeldes, sugeriram que a escolha de Hitto teria sido um dos motivos da renúncia de Khatib

Ontem, o representante da Coalizão no Catar, Nizar Haraki, confirmou que Khatib presidirá a delegação, composta de oito membros, incluindo o premiê. De acordo com dirigentes opositores, a renúncia de Khatib ainda não foi formalmente aceita. Um deles, Ahmad Ramadan, estaria pressionando o chefe demissionário a reconsiderar.

Ao anunciar a renúncia, Khatib criticou a comunidade internacional pela falta de ação no conflito, que já deixou mais de 70 mil mortos. O líder queixou-se ainda de governos que apoiam a oposição para “tentar controlar a revolta”. Segundo outro opositor sírio, Khatib acusa o Catar de ter imposto a eleição de Hitto, apoiado pela Irmandade Muçulmana, contra Imad Mustapha, que era o preferido da Arábia Saudita.