Título: Júri condena dois por morte de extrativistas
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Fonte: Correio Braziliense, 05/04/2013, Brasil, p. 7

Dois dos três acusados de matar o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram condenados, ontem, em Marabá (PA). Lindonjonson Silva Rocha recebeu pena de 42 anos e 8 meses de prisão por ter participado da emboscada, enquanto Alberto Lopes do Nascimento pegou 45 anos por ter sido considerado o autor dos disparos que mataram os dois camponeses. O terceiro réu, o agricultor José Rodrigues Moreira, acusado pelo Ministério Público de ser o mandante do crime, foi absolvido por falta de provas. O veredicto provocou revolta em um grupo de cerca de 200 pessoas que aguardavam o fim da sessão.

O julgamento dos três começou na quarta-feira e terminou no início da noite de ontem, quando o juiz Murilo Lemes Simão anunciou a sentença que condenou Lindonjonson e Alberto e que libertou Moreira. As pessoas que estavam do lado de fora começaram, então, a jogar pedras na direção do prédio. Segundo representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o protesto foi uma clara mostra da insatisfação com a absolvição de Moreira. Segundo a comissão, a impunidade é um dos principais agravantes da violência agrária no Pará. O tumulto foi controlado pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar do estado.

A ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, afirmou que as duas condenações vão de encontro ao sentimento de indignação da sociedade. Porém, ela lamentou que o acusado de ser o mandante dos assassinatos tenha sido absolvido por falta de provas. A Anistia Internacional manifestou preocupação com o resultado do julgamento de José Moreira. “A impunidade dos crimes cometidos contra defensores de direitos humanos fortalece a ação daqueles que agem fora da lei e contra a preservação dos bens naturais do país”, disse a organização, por meio de nota.

Durante todo o julgamento, iniciado na quarta-feira, os advogados de defesa alegaram que houve falhas durante a investigação, o que teria levado os jurados a condenar Lindonjonson e Alberto. Eles tentaram convencer o júri de que o crime foi encomendado por madeireiros, incomodados com as denúncias de extração ilegal de madeira feitas por José Cláudio ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), que promoveu operações para fechar serrarias.

O casal de extrativistas foi morto em uma emboscada quando passavam por uma estrada próxima do projeto de assentamento Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna. José Cláudio e Maria denunciavam, além da destruição da floresta, a grilagem de terras na região. Conforme a acusação, as duas mortes foram arquitetadas para abrir caminho para a compra e venda de lotes irregulares no assentamento.