O Estado de São Paulo, n.46309, 01/08/2020. Economia, p.B7

 

PIB da zona do euro tem queda de 12,1%

Luciana Dyniewicz

01/08/2020

 

 

Recuo no 2º trimestre é o maior da série histórica, iniciada em 1995; com pacote fiscal tímido, Espanha tem pior resultado, caiu 18,5%

A economia da zona do euro registrou a contração mais forte da história no segundo trimestre, mostraram estimativas preliminares divulgadas ontem, com a inflação no bloco acelerando inesperadamente em julho. Entre abril e junho, o Produto Interno Bruto (PIB) nos 19 países do bloco encolheu 12,1% na comparação com o trimestre anterior, informou a agência de estatísticas Eurostat.

A queda mais forte do PIB desde que os registros começaram, em 1995, aconteceu em meio às paralisações provocadas pela pandemia do novo coronavírus, que muitos países começaram a relaxar a partir de maio. A expectativa do mercado era de uma contração de 12%. No primeiro trimestre do ano, o PIB da zona do euro já havia recuado 3,6%.

Entre os países, a Espanha registrou o pior resultado, com sua economia encolhendo 18,5% na comparação trimestral, apagando toda a recuperação da crise financeira dos últimos seis anos. Na comparação anual, a atividade econômica do país teve retração de 22,1%.

Para o economista João Scandiuzzi, estrategista-chefe do BTG Pactual, o resultado espanhol decorre não apenas do fato de a quarentena no país ter sido mais rígida, mas também porque o estímulo fiscal foi mais tímido. Enquanto na Alemanha o pacote de ajuda direta chegou a 8,5% do PIB, na Espanha, ficou em 3,5%. No Brasil, está em 7,3% do PIB, e no México, onde a economia recuou 17,3% no segundo trimestre, ficou em 0,7%.

O PIB na Itália e na França também caiu com força entre abril e junho, mas menos do que o esperado, respectivamente 12,4% e 13,8%. A Alemanha registrou contração de 10,1%.

A inflação deu continuidade à tendência de alta, contrariando expectativas de desaceleração e sustentando o cenário do Banco Central Europeu de que deflação pode ser evitada. A Eurostat informou que os preços ao consumidor no bloco avançaram 0,4% em julho, na comparação com o ano anterior, 0,3% em junho e 0,1% em maio.

A debilidade da economia na zona do euro no segundo trimestre foi um pouco mais intensa do que nos Estados Unidos, que registrou um recuo de 9,5% no período, conforme dados divulgados na quinta-feira. Mas, como a pandemia está em um ritmo mais descontrolado nos EUA, economistas avaliam que a situação americana será mais delicada daqui para frente.

"Apesar de alguns países europeus estarem tendo um repique ( nos casos de coronavírus), eles já estão em uma saída ( da crise) mais concreta. EUA e Brasil registram uma intensidade muito maior no número de casos. Isso tende a causar impactos maiores também na economia do terceiro trimestre", diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Vale lembra ainda que os programas de ajuda dos governos brasileiro e americano são mais curtos que o europeu, o que também não favorece a atividade econômica dos países americanos.

Para o economista Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), em nenhuma dessas regiões, haverá uma recuperação rápida, em forma de V. Na Europa, sobretudo, deve pesar o fato de o turismo estar fechado para viajantes de outros países. O surgimento de novos surtos do coronavírus, obrigando alguns países a retomarem as restrições de circulação de pessoas, também vai prejudicar o PIB nos próximos meses. "Deve haver uma melhora no terceiro trimestre, mas nada suficiente para recuperar as perdas do primeiro e do segundo trimestre."

Impacto local. O recuo das principais economias do mundo não deve ter um impacto muito significativo no Brasil, dado que as exportações não tem peso relevante no PIB e a maior parte das vendas internacionais do País tem como destino a China, que já está em fase de recuperação. No acumulado do ano até junho, as exportações totais do Brasil recuaram 7%, enquanto os embarques para a China aumentaram 13%. O fato de o País vender para fora principalmente commodities também faz com que a queda nas exportações sejam menores.

O economista Silvio Campos Neto, da Tendências, porém, destaca que efeitos indiretos da crise global podem prejudicar o Brasil, já que os investidores ficam mais reticentes e avessos ao risco diante de uma recessão mundial.

Próximos meses

"Deve haver uma melhora no 3.º trimestre, mas não suficiente para recuperar as perdas do 1.º semestre."

Armando Castelar

ECONOMISTA DO IBRE