Correio braziliense, n. 20974, 26/10/2020. Mundo, p. 12

 

Emergência na Espanha por até seis meses

26/10/2020

 

 

Diante de uma situação considerada extrema, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez decretou, ontem, um novo estado de emergência na Espanha, com imposição de um toque de recolher — entre 23h e 6h — em todo o território, à exceção das Ilhas Canárias. A medida foi motivada pelo avanço da segunda onda do novo coronavírus no país, que ultrapassou 1 milhão de infecções. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que, no sábado, em todo o mundo, foram confirmados 465.319 casos do novo coronavírus, um novo recorde mundial pelo terceiro dia consecutivo. Quase a metade dos registros ocorreu na Europa (221.898).

Na Espanha, as medidas restritivas valem, em princípio, por 15 dias, mas com a intenção do governo de prolongá-las até o início de maio. Na véspera, ao menos nove regiões espanholas pediram ao governo central para proclamar esse estado de alerta, embora algumas cidades e territórios já tenham se adiantado com restrições e toques de recolher locais, como Madri, Castilla e León (norte), Valencia (leste) e Granada (sul). "A situação que vivemos é extrema", frisou Sánchez, num pronunciamento transmitido pela televisão.

É a segunda vez que o governo espanhol recorre a esse tipo de expediente com o objetivo de conter a propagação da covid-19, responsável por quase 35 mil mortes no país. As primeiras medidas foram impostas em março e duraram até junho, com o confinamento geral da população.

Recorde

O continente europeu acumula cerca de 9 milhões de contágios e mais de 260 mil mortes, num momento considerado crítico pelo diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Ontem, a França registrou um número recorde diário de contaminações, após o diagnóstico de mais 52.010 positivos, segundo dados das autoridades de Saúde Pública. O número de mortes no país aumentou em 116, chegando a 34.761. Os deputados aprovaram o prolongamento do estado de emergência até 16 de fevereiro, o que autoriza o Executivo a aplicar restrições contra a crise. O toque de recolher de 21h às 06h00, que envolvia 20 milhões de pessoas, foi ampliado e vai atingir 46 milhões de habitantes no país, por seis semanas.

Na Itália, três regiões com as cidades mais populosas voltaram a impor restrições, com toques de recolher, nos últimos dias: Lazio (Roma, centro), Lombardia (Milão, noroeste) e Campânia (Nápoles, sudoeste). Pelo menos duas outras — Piemonte (norte) e Sicília (sul) — seguirão o exemplo nos próximos dias.

Depois de um número recorde de infecções no sábado — 20 mil em 24 horas —, o governo italiano determinou o fechamento de cinemas, teatros, academias e piscinas até 24 de novembro. Os bares e restaurantes devem parar de servir os clientes após as 18h, e 75% das aulas em faculdades e universidades continuarão de maneira virtual. "O objetivo é claro: manter a curva de contágio sob controle, pois é a única maneira de controlar a pandemia sem sermos submersos", explicou o primeiro-ministro Giuseppe Conte.

A iniciativa, porém, não foi bem recebida. Na noite de sábado, dezenas de manifestantes de extrema direita ocuparam o centro histórico de Roma contra o toque de recolher. O protesto entrou pela madrugada. Houve confronto com a tropa de choque. "Isso vai nos destruir", desabafou Augusto d'Alfonsi, dono de um restaurante na capital italiana. Na Alemanha, também há grande insatisfação com as novas restrições.