O Estado de São Paulo, n.46310, 02/08/2020. Metrópole, p.A13

 

Queimadas têm alta de 28% em julho na Amazônia

Bruno Ribeiro

02/08/2020

 

 

Novo índice do Inpe é o maior para focos de incêndio desde 2017 e ocorre após recorde de junho; no acumulado, houve queda

Consequência. Queimadas evitam o prejuízo para quem desmatou, explica geógrafa

Mesmo após as pressões de investidores nacionais e internacionais pela preservação da Amazônia, o mês de julho fechou com uma alta de 28% no total de focos de incêndio na floresta, na comparação com julho de 2019, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). É o pior índice desde 2017. No acumulado do ano, entre janeiro e julho, o total de queimadas neste bioma teve queda de 7,6%.

A floresta amazônica teve 6.803 focos de incêndio, contra 5.318 focos registrados no julho anterior. O recorde para o mês, de 2017, foi de 7.986 queimadas O mês anterior já havia sido o pior junho dos últimos 13 anos, de acordo com o Inpe.

Só nos dias 30 e 31 de julho houve cerca de 1.500 focos. Para a geógrafa Ane Alencar, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), a redução das queimadas no acumulado do ano está mais relacionada a um conjunto de queimadas atípicas registradas em Roraima no ano passado. "Os dados (atuais) são enviesados por causa de uma anomalia atípica dos focos em Rondônia em março e abril de 2019. Eles acabam mascarando o aumento do fogo neste ano". Esssa "anomalia" se traduziu em 2.433 focos de incêndio, mais que o dobro do recorde de 2016, que foi de 1.195 focos.

A geógrafa Ane pondera que os focos de incêndio atuais ainda são um saldo do aumento do desmatamento ocorrido em 2019, o maior da história. É que a queimada, esclarece, é a forma mais prática de limpeza de uma área desmatada. "É caro desmatar. Cada 100 hectares custa cerca de R$ 100 mil. Se não houver a queimada, significa perda econômica para quem investiu no desmatamento".

A bióloga Erika Berenguer, pós-doutoranda da Universidade de Oxford e pesquisadora da Universidade de Lancaster, ambas na Inglaterra, também destaca a ligação entre o desmatamento e as queimadas. "O que a gente está vendo é uma continuação de 2019", afirma, destacando que "não é surpresa" que as queimadas estejam em alta.

'Ineficaz'. O Greenpeace comentou por nota os dados do dia 30, que registrou 1.007 focos de queimadas. "O fato de ter mais de mil focos de calor em um único dia, recorde dos últimos 15 anos para o mês de julho, mostra que a estratégia do governo de fazer operações midiáticas não é eficaz no chão da floresta", afirma a organização. Ela adverte ainda que dos focos de calor de julho, 539 ocorreram dentro de terras indígenas – o que dá 76% mais que no ano anterior.

As queimadas estão proibidas no País desde o dia 16, em um recesso que deveria durar 120 dias. E o período mais intenso de queimadas no País começa agora, e deve durar até o início das chuvas de verão.

O Estadão procurou a assessoria deim prensado vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), para comentar os dados do Inpe, mas não conseguiu contato. Mo ur ãoéop residente do Conselho Nacional da Amazônia Legal. No entorno do vice-presidente havia a expectativa de que o dado fosse positivo, conforme a Coluna do Estadão. No começo do mês, ele havia recebido uma carta de investidores pedindo uma política de proteção para a Amazônia.