Correio braziliense, n. 20976, 28/10/2020. Política, p. 3

 

Drones contra crimes eleitorais

Renato Souza 

28/10/2020

 

 

A Polícia Federal vai usar drones de alta tecnologia para fiscalizar crimes eleitorais, como boca de urna e transporte irregular de eleitores nos pleitos municipais deste ano. De acordo com o diretor-geral da corporação, Rolando Souza, 100 equipamentos foram adquiridos para serem utilizados em 15 de novembro. Eles serão espalhados por pontos estratégicos durante a votação em diversos estados. Além disso, foram criados sistemas para monitorar eventuais desvios de recursos públicos ou da finalidade da verba eleitoral e a propagação de notícias falsas relacionadas ao pleito.

Os drones têm câmeras de alta tecnologia, com capacidade para monitorar uma área de até 6 quilômetros de sua localização. Alguns dos aparelhos custaram R$ 200 mil cadaum. "São drones com câmeras de mais de 180 vezes de zoom. Eles não serão visuais para quem está votando e têm condições de chegar à visão de centímetros", explicou Rolando Souza.

Os detalhes foram apresentados, ontem, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um plano de ação foi criado para uso dos equipamentos aéreos, e a prioridade são locais com maior concentração de eleitores. A mesma ação deve ser realizada no segundo turno, em 29 de novembro.

O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que outra preocupação é com a saúde dos eleitores e mesários. "Em primeiro lugar, a garantia de que as eleições vão se realizar com segurança sanitária e, portanto, impedir que a pandemia se espalhe em razão desse rito essencial da democracia, que são as eleições", destacou. "(...) A nossa outra preocupação é de eleições lisas, livres, limpas e seguras. E, para isso, é preciso combater a criminalidade eleitoral. Tanto a criminalidade convencional, que é essa da compra dos votos, que degrada a democracia, como a criminalidade de transporte ilegal, boca de urna e outros atos ilícitos praticados no dia das eleições."

Antifraude
Barroso afirmou que, além dos crimes no dia da eleição, a grande preocupação é com medidas capazes de coibir fraudes em relação a candidaturas femininas. A PF também desenvolveu um sistema para combater a propagação de notícias falsas e identificar os autores e candidatos que podem ter sido beneficiados com esse tipo de esquema.

O ministro destacou, também, que será implementado um mecanismo para detectar candidaturas laranjas, apresentadas apenas para desviar recursos públicos. Essa prática foi identificada, especialmente, entre candidaturas femininas na última eleição. "A incompatibilidade dos recursos recebidos com os votos obtidos, essa é uma característica desse tipo de crime. É uma medida pela igualdade da participação feminina. Defendemos o aumento da participação feminina por uma questão de política de gênero. Se mais da metade da sociedade é de mulheres, é natural que elas sejam maior parte de candidatos", ressaltou.

O magistrado destacou que as medidas ocorrem para incentivar a candidatura de mulheres, e enfatizou que elas costumam ter melhor gestão nos mandatos. "Os países que tiveram melhores resultados no enfrentamento da pandemia, por acaso ou não, eram governados por mulheres, como Alemanha e Nova Zelândia", elogiou.