Correio braziliense, n. 20976, 28/10/2020. Negócios, p. 8

 

Operações suspeitas subiram 40% no ano

28/10/2020

 

 

A ocorrência de operações suspeitas de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo subiram 40% no Brasil neste ano. O dado é da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que credita esse aumento às tentativas de fraudes bancárias e aos desvios de recursos relacionados à pandemia de covid-19.

"Na pandemia, vimos crescer exponencialmente a ação de criminosos, seja por meio de fraudes bancárias ou de esquemas espúrios para desvio de verbas públicas, na aquisição de insumos e equipamentos médicos destinados para o combate à covid-19", explicou o presidente da Febraban, Isaac Sidney Menezes. Ele lembrou que muitas operações de combate à lavagem foram deflagradas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, tanto no âmbito federal, quanto no âmbito estadual, por conta desses desvios.

Sidney contou que, por conta disso, o setor bancário já emitiu 165 mil comunicações de operações suspeitas de lavagem a órgãos de fiscalização, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), entre janeiro e setembro deste ano. Também foram emitidas 3,2 milhões de comunicações sobre operações financeiras que movimentaram R$ 50 mil ou mais em dinheiro em espécie.

"Tivemos um aumento substancial na quantidade de comunicações, da ordem de 40%, quando falamos de operações suspeitas, e de 10% de aumento das operações em espécie", comentou Sidney, ontem, na abertura do 10º Congresso de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo da Febraban.

No ano passado, foram 119 mil comunicações de operações suspeitas e 2,9 milhões de informes sobre operações em espécie superiores a R$ 50 mil. Segundo a Febraban, essas comunicações produziram 6.272 relatórios de inteligência financeira, que alcançaram 255,6 mil pessoas físicas e jurídicas, no Coaf.

Aprimoramento
Sidney garantiu que, no que diz respeito à prevenção à lavagem e ao financiamento do terrorismo, os bancos brasileiros trabalham juntos com os órgãos de fiscalização na adoção das melhores práticas internacionais. Ele disse ainda que os bancos têm aprimorado sistemas de controle de forma constante e que, neste momento, a Febraban está em um processo de revisão da autorregulação.

A ideia é o sistema bancário se adaptar ao novo marco regulatório de prevenção à lavagem de dinheiro do Brasil, publicado no início do ano pelo Banco Central (BC) e que entrou em vigor no início deste mês, por meio da Circular 3.978.

Ainda na abertura do congresso da Febraban, o diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do BC, Maurício Moura, frisou que as novas normas visam acompanhar a evolução do crime e das tecnologias financeiras. A autoridade monetária também espera que essas regras contribuam para a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).