Correio braziliense, n. 20978, 30/10/2020. Brasil, p. 6

 

Pantanal tem pior outubro da história

30/10/2020

 

 

O Pantanal viu queimar, em 2020, área equivalente a mais de sete vezes o tamanho do Distrito Federal. Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), são mais de 4.167.000 hectares perdidos para as chamas, o que representam 28% do bioma. Nem com a chegada das chuvas o fogo deu trégua e fez outubro bater recorde histórico de queimadas no Pantanal para o mês, antes mesmo de terminar.
Pelo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pantanal registrou, até ontem, 2.825 focos de incêndio, um aumento de 16% em relação a outubro de 2019. Esta é a pior marca para o mês desde que o instituto passou a monitorar as chamas nos biomas brasileiros, em 1998. Até então, o maior acumulado de incêndio no local, em outubro, aconteceu em 2002: 2.761 focos. Os números seguem a tendência de recordes de 2020. Com 8.106 registros, setembro foi o mês com mais queimadas no bioma na comparação com os outros meses do ano na história do levantamento.

O alerta de que o Pantanal sofreria uma das piores perdas foi evidenciado em julho, que também extrapolou o máximo de registros até então, somando 1.684 focos. Já agosto, que somou 5.935 incêndios, só não superou o mesmo mês de 2005, quando o fogo atingiu 5.993 pontos.

Da lista dos 10 municípios com o maior número de focos acumulados entre o início deste ano até agora, Corumbá (MS) aparece em primeiro lugar, com 7.985 pontos de queimada, um aumento de 55% em relação a 2019 (5.166). Em segundo lugar, também referente ao bioma pantaneiro, está Poconé (MT), cujo aumento, entre 2020 e 2019, foi de 2.507%, passando de 200 focos para 5.214 este ano.

O Inpe contabilizou 21.084 queimadas no Pantanal de janeiro a outubro, um aumento de 165% se comparado com o mesmo período de 2019, quando houve 7.939 focos. Segundo a última nota técnica da Lasa da UFRJ, do início do ano até 25 de outubro, das 35 Unidades de Conservação (UCs) do bioma, quatro tiveram 100% da área queimada e outras 11 tiveram perdas acima de 70%.
Em terras indígenas, Baía dos Guató teve mais de 17 hectares devastados pelo fogo, 90,5% do total. Tereza Cristina e Perigara perderam, consecutivamente, 84,1% e 82,4% das terras para o fogo.
Para debater o enfrentamento das queimadas, a Comissão do Pantanal reúne-se, hoje, em audiência pública. Na pauta entra a discussão sobre os recursos e forças empenhados, visto que, com o início das chuvas, parte da equipe de brigadistas foi retirada do local, voltando aos seus postos de origem. A alegação foi de indisponibilidade financeira para fechar o mês de outubro.

"A autarquia passa por dificuldades quanto à liberação financeira por parte da Secretaria do Tesouro Nacional. Para a manutenção de suas atividades, o Ibama tem recorrido a créditos especiais, fundos e emendas. Mesmo assim, já contabiliza R$ 19 milhões de pagamentos atrasados, o que afeta todas as diretorias e ações do instituto, inclusive, as do PrevFogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais)", justificou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em nota, após a ordem de retirada. A medida já estava prevista, segundo o MMA.
Mourão

Com o objetivo de mostrar a "realidade das queimadas", o vice-presidente Hamilton Mourão levará representantes de diversos países para uma viagem pela Amazônia na próxima semana. De acordo com o roteiro elaborado pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), os diplomatas devem visitar roteiros nas cidades de Manaus, São Gabriel da Cachoeira e Maturacá. A vice-presidência informou que o roteiro "tem por objetivo mostrar à comunidade nacional e internacional que a Amazônia brasileira continua preservada e que sua complexidade ambiental e humana não permite um entendimento genérico da região".