Título: Desrespeito em dobro
Autor: Nascimento, Bárbara
Fonte: Correio Braziliense, 06/04/2013, Economia, p. 10

Os esforços da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para conter os abusos das operadoras de plano de saúde parecem não intimidá-las. Um levantamento da Capitolio Consulting com as 20 empresas mais reclamadas — de acordo com o ranking da própria agência reguladora — durante seis meses mostra que em 66,7% dos casos as penalidades impostas pela ANS não surtiram efeito e que as companhias pioraram a situação ou se mantiveram no mesmo patamar.

Feito com base em queixas de usuários, entre agosto de 2012 e janeiro deste ano, o estudo procurou analisar se as empresas temem que o ranking da ANS afete a comercialização e, com isso, passem a investir na qualidade dos serviços. "O que percebemos foi que elas não se importam e que os níveis (ruins dos atendimentos) se mantêm", afirmou o sócio-diretor da consultoria, Roberto Parenzi.

A piora é mais significativa entre as operadoras de grande porte, que somam mais de 100 mil usuários. Dessas, 65% subiram de posição entre as mais reclamadas. A SulAmérica, por exemplo, que figurava em segundo lugar no rol das queixas no ano passado, atingiu, no início de 2013, a primeira posição. No caso das empresas de pequeno e médio porte, como a Unimed Brasília e a Real Saúde, os índices de piora foram 45% e 40%, respectivamente.

Para tentar conter o número de reclamações, a ANS anunciou, na última quarta-feira, uma resolução que obriga as operadoras a terem uma ouvidoria. Parenzi acredita que a medida deve, sim, reduzir a quantidade de queixas que chegam à agência, mas isso, disse ele, não necessariamente significará que as empresas vão melhorar o atendimento. "Entendo que, se essas ouvidorias resolverem os problemas na base, quando os usuários ligam, eles não vão chegar à ANS. Mas isso pode não significar uma melhora: as operadoras vão apenas filtrar os problemas e impedir que eles cheguem à agência", afirmou.

O Correio procurou a SulAmérica e a Unimed Brasília e não obteve resposta até o fechamento desta edição. A direção da Real Saúde informou que uma outra empresa com o mesmo nome da operadora atua na região e que os problemas dela acabam impactando negativamente a posição da empresa no ranking.